Eclipse anular do Sol visto no Norte

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Portugal volta a presenciar um eclipse do Sol no próximo dia 3 de Outubro mas, desta vez, o fenómeno tem duas particularidades que fazem dele um momento muito especial é o primeiro eclipse solar do século XXI visível no País e, além disso, numa faixa de 138 km de largura, que atravessa o Norte do território continental, e que inclui Bragança, Chaves ou Braga, entres outras cidades, o eclipse será anular. Ou seja, na sua fase máxima, restará do Sol apenas um fino anel de luz, em torno da sombra negra da Lua.

O último eclipse anular visível em Portugal aconteceu em 1984, no dia 30 de Maio, mas nessa altura só os Açores tiveram o privilégio de contemplar o espectáculo da ocultação quase total do Sol. No território continental, a última vez que isso aconteceu já foi há quase cem anos, a 18 de Abril de 1912. Dessa vez calhou a Ovar a melhor localização para a sua observação.

O eclipse anular de 3 de Outubro (de amanhã a uma semana), que promete ser espectacular na privilegiada faixa de sombra quase total, inicia-se bem cedo, pelas 08.38, atinge a sua fase máxima - que dura escassos cinco minutos - às 09.55 e desfaz-se quando forem 11.18. Fora da faixa contemplada pela "anularidade" do eclipse, este será visto como parcial em todo o território nacional. O último eclipse parcial observado em Portugal aconteceu a 11 de Agosto de 1999.

Desta vez, o fenómeno será bem mais intenso no Minho, Trás-os-Montes e Alto Douro, que estão na rota da sombra quase total projectada pela Lua, e cujo trajecto se inicia no Atlântico, caminha em direcção ao Norte do País, atravessa Espanha e as ilhas Baleares, segue para sudeste na direcção do continente africano, passando pela Argélia, Tunísia, Sudão, Etiópia, Quénia e extremo sul da Somália, para terminar, já ao pôr-do-Sol, em pleno Oceano Índico. Os eclipses solares ocorrem quando o Sol, a Lua e a Terra se encontram alinhados nesta exacta configuração, isto é, com a Lua entre a Terra e o Sol.

Uma feliz coincidência entre a dimensão do satélite natural da Terra e a distância a que se encontra o Sol joga também aqui um papel curioso. É que o Sol, tendo um diâmetro 400 vezes maior do que o da Lua, fica também 400 vezes mais distante da Terra do que o satélite terrestre. Resultado, os diâmetros aparentes de ambos, observados daqui, são aproximados, e quando a Lua se interpõe entre ambos consegue ocultar o Sol aos olhos terrestres, embora isso só aconteça para uma porção do planeta. Porque razão não são então sempre totais os eclipses do Sol? A resposta é simples. A órbita da Lua, sendo elíptica, leva-a na sua viagem em volta da Terra a distâncias que não são constantes. Quando o alinhamento entre os três astros ocorre num momento em que a Lua está no ponto mais afastado da sua órbita (apogeu), ou próximo dele, o disco lunar, com um tamanho ligeiramente menor, não consegue ocultar completamente o Sol, "sobrando" então o tal anel. Quando a Lua está no ponto da sua órbita mais próximo da Terra (perigeu), e em caso de alinhamento perfeito, então ocorre um eclipse total do Sol.

Observação. Numa zona de visibilidade de um eclipse total do Sol, na fase máxima do fenómeno escurece intensamente ao ponto de algumas estrelas se tornarem visíveis, a temperatura desce e os animais ficam perturbados, manifestando-se ruidosamente. Num eclipse anular não é bem assim, porque permanece um coroa de luz. "Não esperamos que a temperatura desça ao ponto de isso se notar, até porque o eclipse acontece pouco depois de o Sol nascer", explica o astrónomo Máximo Ferreira, que orientará em Bragança sessões de observação do eclipse. "A diminuição de luz deverá ser idêntica à do momento da aurora e contamos que Vénus se torne visível porque é muito brilhante. Júpiter será mais difícil e estrelas muito provável", prevê.

Tal como mostra o gráfico, Bragança é uma das cidades que fica exactamente na zona central da faixa de 138 km de largura dentro da qual será visível o eclipse anular. É por isso que Máximo Ferreira, que coordena a área da astronomia no Centro Ciência Viva de Constância, ruma de armas e bagagens para aquela cidade transmontana. Não é o único. O programa de festas Ciência Viva envolverá as escolas da cidade e actividades de observação com os alunos no próprio dia 3, mas tudo isso começará a ser preparado ainda esta semana. Para o próximo domingo, às 11.00, estão, aliás, agendadas palestras sobre física solar e eclipses no teatro municipal da cidade, por astrofísicos portugueses. Todas estas actividades Ciência Viva são gratuitas. O programa completo pode ser consultado em www.cienciaviva.pt .

Os astrónomos do NUCLIO, uma associação para a divulgação da astronomia, também vão rumar a Trás-os-Montes, para Argozelo, a 15 km de Bragança. Além das observações e palestras, o NUCLIO disponibiliza também um pacote com viagem e estadia incluídas, desportos radicais e passeios na natureza no fim-de-semana que antecede o eclipse. Mais informações em www.nuclio.pt.

Na capital, onde fenómeno é parcial, o Observatório Astronómico de Lisboa abre as portas ao público para a sua observação com telescópios e mostra de documentos históricos sobre eclipses anteriores. Em Bragança, Lisboa, Porto, ou qualquer outro ponto do País, integrado em sessões de observação colectiva ou não, comum a todos os observadores terá de ser a segurança. Em caso algum o Sol deve ser olhado sem a protecção de óculos próprios para o efeito que, nestas ocasiões, são geralmente vendidos nas farmácias. Os óculos de soldador, ao contrário de negativos de fotografias e vidros fumados, são uma alternativa.

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