Eclipse anular do Sol é amanhã

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Amanhã, quando faltarem cinco minutos para as 10.00, começa a fase mais intensa do primeiro eclipse solar do século XXI visível em Portugal. A ocultação do Sol pela Lua será parcial na maior parte do território, mas quem estiver numa faixa de 138 km de largura, que engloba as regiões do Minho, Douro e Trás-os-Montes, lá bem para o Norte, terá o privilégio raro de contemplar um eclipse anular do Sol. Ou seja, na fase máxima do eclipse (que dura cinco minutos) restará do Sol apenas um fino anel de luz, em torno da sombra negra da Lua.

O fenómeno, que promete ser espectacular na privilegiada faixa de sombra quase total, inicia-se bem cedo, pelas 08.38, atinge a sua fase máxima às 09.55 e desfaz-se completamente quando forem 11.18.

Muitos entusiastas destes fenómenos astronómicos já seguiram, ou seguem hoje, viagem para aquelas paragens nortenhas e grupos de astrónomos e divulgadores estão a preparar sessões de observação em Bragança e noutras localidades (ver caixa na outra página).

A raridade e, certamente, a beleza do acontecimento justificam esta deslocação. O último eclipse anular em Portugal aconteceu em 1984, a 30 de Maio, mas nessa altura só os Açores tiveram a sorte de observar o espectáculo da ocultação quase total do Sol. No território continental, a última vez que isso aconteceu já foi há quase cem anos, em 17 de Abril de 1912. Dessa vez calhou à região de Ovar uma das melhores localizações para a sua observação.

Nessa época, estes fenómenos ainda eram importantes para a ciência, já que os cálculos astronómicos careciam da precisão que hoje os caracteriza. Nesse ano de 1912, os astrónomos não podiam prever, por exemplo, se o ecli- pse seria total ou anular, e em qualquer dos casos, não sabiam onde isso iria acontecer exactamente.

Essa dupla incerteza acabaria por dar origem a várias missões de observação em Portugal de astrónomos estrangeiros e portugueses, como conta o DN na sua edição de 18 de Abril de 1912 (ver texto na outra página).

Quase cem anos depois, não há incertezas quanto ao fenómeno. Os astrónomos profissionais e amadores, e os caçadores de eclipses, esperam sobretudo que a meteorologia ajude e que o céu não esteja encoberto amanhã, à hora certa.

Fora da faixa contemplada pela anularidade, o eclipse será visto como parcial em todo o território nacional - o último eclipse parcial observado em Portugal aconteceu a 11 de Agosto de 1999.

Os eclipses solares ocorrem quando o Sol, a Lua e a Terra se encontram alinhados, com a Lua entre a Terra e o Sol.

Uma feliz coincidência entre a dimensão do satélite natural da Terra e a distância a que se encontra o Sol joga aqui um papel curioso. O Sol, com um diâmetro 400 vezes maior do que o da Lua, fica também 400 vezes mais distante da Terra do que o satélite terrestre. Por isso, os diâmetros aparentes de ambos, observados daqui, são aproximados, e quando a Lua se interpõe entre ambos consegue ocultar o Sol aos olhos terrestres, embora isso só aconteça para uma porção estreita do planeta. Quando a Lua, na sua órbita, está no ponto mais afastado da Terra, o disco lunar, com um tamanho ligeiramente menor, não consegue ocultar completamente o Sol, "sobrando" então o tal anel.

Numa zona de visibilidade de um eclipse total, na fase máxima do fenómeno, a Lua sobrepõe-se completamente ao disco solar e, por isso, a escuridão torna-se intensa, ao ponto de algumas estrelas se tornarem visíveis. A temperatura também desce e os animais ficam perturbados, manifestando-se ruidosamente. Num eclipse anular, como o que vai ocorrer amanhã no Norte do País, não é assim, porque resta sempre uma coroa de luz a rodear a sombra negra da Lua - como um anel.

"Não esperamos que a temperatura desça ao ponto de isso se notar, porque o eclipse acontece pouco depois de o Sol nascer", explica o astrónomo Máximo Ferreira, que orientará em Bragança sessões de observação do eclipse. "A diminuição de luz deverá ser idêntica à do momento que antecede a aurora, mas com esse efeito a espalhar-se por todo o céu, e contamos que Vénus, porque é muito brilhante, fique visível. Júpiter já será mais difícil de ver e o aparecimento de estrelas é pouco provável", prevê.

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