Ecclestone quer devolver o perigo à F1 e propõe muros

"Antigamente as pessoas iam ver as corridas com a noção de que alguém podia morrer", compara o veterano "patrão" da F1
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De Bernie Ecclestone já pouca gente estranha ouvir tiradas polémicas de tempos a tempos. Sejam sobre a Fórmula 1, sobre o papel das mulheres, sobre a homossexualidade ou mesmo sobre o papel histórico de Adolf Hitler. Aos 86 anos, o Supremo da F1, como é frequentemente tratado o empresário britânico que dirige a competição há 40 anos, não abranda. Agora, acenou com umas "ideias- -choque" sobre a segurança, que Ecclestone considera "exagerada" e prejudicial para o espetáculo.

"Antigamente, as pessoas vinham ver uma corrida com a noção de que alguém podia morrer", ilustrou o diretor executivo da Fórmula 1, à margem do Grande Prémio dos Estados Unidos de domingo passado, em declarações que ganharam agora repercussão global, com a comitiva da F1 já no México, para a antepenúltima prova do mundial, que se corre amanhã.

"Hoje em dia toda a gente sabe que ninguém vai morrer numa corrida", comparou o dirigente, ignorando a morte do francês Jules Bianchi, no ano passado, na sequência de um grave acidente no Grande Prémio do Japão de 2014 - a primeira fatalidade na F1 desde a morte de Ayrton Senna, em 1994, que motivou uma profunda reformulação das medidas de segurança(ver texto secundário).

O britânico ressalvou que "isso [não morrerem pilotos] é bom" e que esses tempos passados de risco desmedido em pista "não vão mais voltar", mas acha que é preciso introduzir maiores fatores de dificuldade para os pilotos, de forma a "apimentar" as corridas.

Ecclestone deu um exemplo: construir muros nas curvas. "Muros de 40 centímetros. Toda a gente acha que os pilotos não deveriam usar tanto as escapatórias. Com os muros não o fariam certamente", argumentou o "patrão" da F1 - e que se deve manter no cargo mais alguns anos, apesar de a empresa que gere a competição ter sido recentemente vendida ao grupo norte-americano Liberty Media, do multimilionário John C. Malone, por sete mil milhões de euros, num negócio ainda em conclusão.

Mas o britânico foi um pouco mais longe nos exemplos e resgatou o aparatoso acidente do espanhol Fernando Alonso já esta temporada, no Grande Prémio da Austrália, para ilustrar como poderia a Fórmula 1 "rentabilizar", do ponto de vista do espetáculo, este tipo de acidentes: "Quando se tem um grande acidente destes, devíamos usar uns lençóis para tapar a cena, trazer as ambulâncias, levá-lo para o hospital... Só depois, mais tarde, anunciar que felizmente ele está bem. É preciso um pouco de showbiz. As pessoas gostam disso."

Excêntrico e polémico como sempre, Ecclestone cavalga o sentimento generalizado de que a Fórmula 1 está demasiado "politicamente correta" em pista. Um dos exemplos recentes é o da regra anunciada pela Federação Internacional (FIA) a proibir os pilotos de mudarem de direção durante uma travagem, em resposta sobretudo à condução agressiva do jovem Max Verstappen, da Red Bull, que tem protagonizado alguns casos nesta temporada. Ecclestone defende o estilo do piloto holandês, de 18 anos: "É por isso que as pessoas adoram o Max. Ele é um competidor, gosta de correr e esticar o dedo do meio aos outros."

A reação dos pilotos

As palavras de Bernie Ecclestone ecoaram no México, onde ontem decorreram os primeiros treinos livres para o Grande Prémio de domingo, no qual Nico Rosberg (Mercedes) pode até já sagrar-se campeão, caso vença e o seu colega e rival Lewis Hamilton não pontue. O alemão, cujo eventual título também foi menorizado por Ecclestone - "não acrescentará nada à F1" -, desviou-se da polémica. "Acho que há umas dez outras áreas para as quais olhar primeiro de forma a melhorar este desporto, antes de pensarmos em regredir na segurança", referiu Rosberg.

Também o britânico Jenson Button (McLaren), presidente da associação de pilotos, disse que "a segurança existe por algum motivo" e sugeriu antes "melhores ângulos de transmissão televisiva" para aumentar o espetáculo, numa alusão a uma área (transmissões de tv) dominada e explorada por Ecclestone há vários anos.

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