"É véspera de Natal..." Carta de soldado morto na II Guerra entregue à família
Uma carta escrita por um soldado italiano que morreu na frente oriental, durante a II Guerra Mundial, foi entregue 78 anos depois à família. A missiva foi escrita na véspera de Natal de 1942 pelo tenente Vincenzo Fugalli, de 23 anos, que viria a morrer um mês depois, a 26 de janeiro de 1943, na batalha de Nikolayevka.
"Queridos, perdoem o atraso inevitável. Devia ter escrito há uma semana, quando um golpe repentino nos fez levantar as tendas e partir para a outra margem, ", diz a carta, que foi entregue à sobrinha-neta do soldado, Serena Fugalli, pelas mãos de Olsa Rosa Davini, de Mântua, que a encontrou dentro de um livro que era do pai.
"É véspera de Natal, estou a escrever e entretanto, no abrigo ao lado do meu, estão a cantar a Pastorela e até se esquecem das rações que demoram a chegar", diz a carta, que foi entregue à sobrinha-neta do soldado, Serena Fugalli, pelas mãos de Olsa Rosa Davini, de Mântua, cuja investigação levou ao documento.
"Lá fora está a nevar forte, vê-se que o Menino também deve nascer aqui, o ambiente é o mais favorável e sugestivo", escreveu Enzo, como era conhecido o soldado da cidade de Barletta, que nunca chegou a enviar a sua carta. "Os vigias têm um pouco de frio e muita nostalgia, vou lá fora... É um 'quem vem lá' contínuo que se repete ao longo da trincheira", acrescentou, segundo a transcrição publicada pelo jornal Messaggero Veneto.
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"Nunca me senti mais orgulhoso e mais tranquilo do que agora. Ficaria feliz se soubesse que entre vocês existia um pouco da minha tranquilidade", escreveu, tranquilizando a família e garantindo ter a certeza que "nada me poderá acontecer", nem mesmo se andasse no meio de minas.
E descrevia alguns do companheiros, dizendo sentir "satisfação" por ser "o confidente, o amigo" do grupo, que continua jovens e veteranos de outros combates. "Muitos já têm família, muitos falam de crianças que estão longe mas no dever, no serviço pesado, na obediência, na mútua compaixão", lê-se na carta com 78 anos.
A carta esteve guardada durante anos num livro que o pai de Olga Davini, um veterano, encontrou na Rússia. "Os meus pais, principalmente o meu pai, trabalharam incansavelmente no período pós-guerra com o governo russo para tornar possível a devolução dos corpos de alguns soldados que caíram naquela frente de batalha durante a II Guerra Mundial", contou.
"Uma missão baseada em negociações difíceis, no mínimo, mas realizada com a consciência moral de prestar uma homenagem inestimável à memória de tantos soldados que não puderam abraçar os seus entes queridos", acrescentou, citada pela agência de notícias italiana ANSA, dizendo que herdou esse trabalho dos pais e que acabou por encontrar a carta, que através das redes sociais conseguiu devolver à família do soldado.
A entrega do documento foi feita na presença do presidente da câmara de Barletta, Cosimo Cannito, que destacou esta "missão de humanidade" e a "obstinação exemplar" de Olga Davini. "Toda a cidade de Barletta deve agradecer este gesto de valor absoluto", referiu.