Instabilidade laboral e desemprego, salários baixos e rendimentos insuficientes para sustentar uma casa e uma família, dificuldade em encontrar e manter relações estáveis são alguns motivos que têm contribuído para atrasar a saída dos jovens da casa dos pais. E também de constituir família, como vem ficando cada vez mais claro, com os lares portugueses a contar já com uma média inferior a um bebé por família. E o cenário está a piorar..De acordo com os mais recentes Índices de Fertilidade, quase metade dos homens e mulheres portugueses entre os 18 e os 50 anos não tem filhos. Entre os que os têm ou planeiam ter - pelo menos uma em cada dez mulheres não quer ser mãe -, a decisão e a sua concretização acontecem tendencialmente mais tarde e resultam em menos crianças por agregado..A crise demográfica é uma realidade em toda a Europa, mas Portugal está particularmente mal nesta área, com a quinta taxa de natalidade mais baixa de toda a União Europeia: não chega a 8,5 nascimentos por cada mil habitantes, num total de 86,6 mil crianças nascidas no ano de 2019. E a pandemia veio piorar a situação, com Portugal a cair 6,6% neste índice no último ano..Os efeitos da quebra na natalidade são sérios - envelhecimento da população, diluição cultural, perda económica, maior dificuldade de sustentabilidade da Segurança Social, só para nomear alguns - e visivelmente os incentivos não têm resolvido grande coisa. Uma preocupação que é transversal ao Velho Continente..Ainda há uma semana, a Sérvia veio apresentar novos estímulos para reverter esta situação, incluindo um pagamento direto em dinheiro de 2500 euros no nascimento do primeiro filho. "Estamos a desaparecer enquanto nação. Estamos cada vez mais velhos e o nosso progresso económico vai depender da forma como conseguimos assegurar a evolução deste país através de medidas demográficas", justificou o presidente Aleksandar Vucic..Por cá, onde o número de nascimentos se mantêm reduzido há quatro décadas - e pior seria, não fossem os imigrantes que se vão instalando e ficando -, os parcos anúncios de políticas públicas para incentivar o crescimento das famílias não têm sido capazes de fazer frente à degradação económica do país e às condições permanentemente precárias dos mais jovens. E nem a ciência tem sido capaz de ajudar em grande escala, já que os apoios à procriação medicamente assistida com financiamento público estão limitados a mulheres com menos de 40 (fertilização in vitro) ou 42 anos (inseminação artificial). Muito pouco, num quadro em que a idade média de uma mulher à data do nascimento do primeiro filho tem vindo a atrasar-se para depois dos 30 anos. E num país onde a maioria das famílias não tem condições financeiras para recorrer a clínicas privadas para ter filhos..É urgente mudar este rumo em Portugal. Se não atalhamos caminho rapidamente para uma verdadeira promoção da natalidade no país, corremos sérios riscos enquanto nação, no que respeita ao desenvolvimento económico e à nossa mera sustentabilidade.