É um desperdício pedir aos alunos que guardem os "smartphones" nas aulas
"É um desperdício estarmos a pedir aos alunos que guardem os seus "smartphones" nas mochilas", disse à agência Lusa Adelina Moura, sublinhando que se trata de tecnologia "levada pelos alunos a custo zero para as escolas" e que pode ser incorporada no ensino da Língua Portuguesa, como de outras matérias.
A professora da Escola Secundária Carlos Amarante, de Braga, é uma das oradoras das III Jornadas de Língua Portuguesa Investigação e Ensino, promovidas pela Cátedra Eugénio Tavares, do Instituto Camões em Cabo Verde, que decorrem entre hoje e quarta-feira na cidade da Praia.
Este ano dedicadas à produção de materiais didáticos para o ensino de Português como língua segunda, as jornadas incluíram, durante a manhã de hoje, um painel reservado ao papel das tecnologias móveis na aprendizagem do Português a cargo de Adelina Moura.
A professora explicou que as técnicas e métodos usados nas suas aulas partem do princípio de que "se não os podes vencer, junta-te a eles" e promove o "uso positivo" destes dispositivos nas salas de aula.
"Por exemplo, antes de falar de determinado autor, alunos vão pesquisar e vão usar a ferramenta "padlet", que é um mural, onde colocam as suas pesquisas e estamos todos a ver o que está a ser publicado. Depois há uma série de aplicações que podemos usar na sala de aula que permitem responder a questionários e perceber se estiveram atentos e se a informação passou e foi assimilada", explicou.
[destaque:O principal é manter "os alunos ativos e participativos" nas aulas, orientando-os e corrigindo resultados de pesquisas menos corretos cientificamente]
"É nessa altura que aproveito para falar na importância do contraste das fontes, na capacidade de ter espírito crítico acerca daquilo que se pesquisa e saber separar o que está correto e menos correto. Esta atividade permite fazer o levantamento de uma serie de questões ligadas à literacia informacional", adiantou.
Mas, ressalvou a professora, o uso dos telemóveis e tabletes obedece a um regulamento elaborado em conjunto com os alunos e que prevê um sistema de pontos, que penaliza o mau uso.
"A ideia é que eles sintam que têm uma ferramenta muito potente, mas que tem que ser usada positivamente. Eles sabem que se usarem indevidamente perdem pontos e eles não gostam de perder pontos", disse.
Adelina Moura é licenciada em Ensino Integrado de Português e Francês e tem desenvolvido investigação em "mobile learning".
A professora leciona Português e Francês na Escola Secundária Carlos Amarante, em Braga, e, em 2005, foi premiada pela Microsoft no concurso de Professores Inovadores.
Além do uso de telemóveis e tabletes, a professora recorre também a áudio e vídeo-aulas e mantém ativo um site e um blogue da sua disciplina, bem como um canal sempre aberto com a professora para esclarecer dúvidas.
Amélia Lopes, a responsável pela cátedra Eugénio Tavares, criada em parceria entre a Universidade de Cabo Verde e o Camões - Instituto da Cooperação e da Língua, assinalou os desafios ao ensino da língua portuguesa em Cabo Verde.
"O desafio é conseguir levar aos professores a ideia de que é possível produzir materiais didáticos direcionados para o Português língua segunda e associar a essa produção de materiais didáticos as novas tecnologias de educação, tornando o ensino do Português mais interessante, menos chato e capaz de atrair mais os estudantes de língua portuguesa", disse.
Cabo Verde tem em curso a reforma do sistema de ensino, que prevê que a Língua Portuguesa passe a ser ensinada como língua segunda a partir do pré-escolar, um projeto que está a ser apoiado pelo instituto Camões, que fornece assistência técnica na elaboração de materiais, métodos, programas e currículos.
Apenas uma pequena percentagem das crianças cabo-verdianas tem o Português como língua materna, sendo que a maioria fala crioulo.