É tempo de hastear a bandeira da liberdade
A guerra da contrainformação está ao rubro. A invasão da Ucrânia pela Rússia aumentou a quantidade de fake news que prolifera nas redes sociais, e não só. Aos media é exigido um papel ainda mais atento, independente e transparente na filtragem dos dados. Nem todos são factos. Muitos podem ser opiniões, comentários, análises parciais que servem alguém ou alguma instituição. Vale a pena lembrar que não faltam treinadores de bancada em Portugal quando se trata de falar não só de futebol, mas da informação e do jornalismo. Por isso as fontes credíveis assumem uma missão cada vez mais importante e são os tijolos e o cimento, ou o betão, que compõem os pilares das democracias saudáveis e sustentáveis no curto, médio e longo prazo. Hoje, são os regimes autoritários que ameaçam os regimes democráticos, a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa. Penso que a superioridade moral de quem realmente acredita na democracia acabará por prevalecer, por ganhar.
Hoje, destrinçar entre o jornalismo dos factos da opinião enviesada e, tantas vezes, mal-intencionada não é um desafio novo; simplesmente o desafio aumentou e os requintes de desinformar sofisticaram-se. Não seremos cegos, mudos ou surdos sempre que nós, os verdadeiros jornalistas, formos confrontados com violações dos direitos humanos, discriminação, crimes de guerra e ataques à humanidade. Devemos aos leitores e aos nossos filhos não branquear a guerra, mas relatar o que em terras ucranianas se passa, o horror do conflito, e, acima de tudo, mostrar o que não pode voltar a acontecer e não tem perdão. Se olharmos a brutalidade do conflito (já apelidado de "terceira guerra mundial" pelo major-general Agostinho Costa) com insensibilidade, significará que já não temos sangue quente a correr nas veias e, muito menos, uma mente lúcida. Perante tanta informação (factos e imagens reais) da guerra na Ucrânia, que não nos tornemos indiferentes aos ataques de Putin à humanidade.
Como refere hoje, numa entrevista ao DN, Jorge Silva Carvalho - ex-diretor do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED) e antigo chefe da Casa da Rússia (a unidade de contraespionagem para os países da ex-URSS) -, depois do massacre em Bucha "a Rússia vai ser mais cautelosa. Tomaram logo medidas de contrainformação no sentido de lançar confusão para criar a dúvida sobre a autoria do massacre [...], o que interessa à Rússia, ao lançar esta dúvida, é evitar um agravamento das sanções e que as caixas de ressonância da mensagem russa continuem ativas".
Não deixemos que a poeira que nos atiram para os olhos nos oculte a visão. Continuaremos a fazer jornalismo de investigação, como é o ADN deste jornal desde 1864, e a denunciar situações como o assédio na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa ou a morte do cidadão ucraniano Ihor Homeniuk às mãos do SEF, entre tantas outras. No Diário de Notícias comprometemo-nos a honrar a herança editorial de um jornal que já completou 157 anos- e que dirijo há um ano e meio. A liberdade é a única bandeira que deve ser hasteada pelo jornalismo e investigar nunca é demais - os leitores e a democracia agradecem.