As notícias sobre os problemas do Facebook sucedem-se a um ritmo aparentemente imparável. Enquanto isso, do lado dos responsáveis da empresa, apenas conseguimos promessas e pouca mudança. Na presente situação, o conflito entre rentabilidade e qualidade dos serviços parece insanável. Será então tempo de sair para responder aos problemas da plataforma? A resposta para um crescente número de pessoas na Europa tem sido positiva, embora se compreenda que muitos ainda dependerão da rede. Mas vejamos a gravidade da situação, para depois analisarmos o que podemos ganhar e o que podemos perder com a saída..Desde há algum tempo que o Facebook deixou de ser uma simples plataforma digital de ligação entre pessoas, sendo agora uma empresa que vende dados dos aderentes de modo a obter receitas de publicidade comercial e, mais recentemente, também de propaganda política. Acontece que as vendas de dados pessoais não são reguladas, nem na origem nem no destino..Um dos primeiros problemas a serem tornados públicos, com escândalo, decorreu da venda de informação à Cambridge Analytica, empresa especializada no lóbi político, que a utilizou indevidamente para influenciar os resultados eleitorais nos Estados Unidos, no Reino Unido e em alguns países asiáticos e africanos. Este escândalo levou o Facebook a ter de responder perante o Congresso norte-americano e os parlamentos britânico e europeu, mas nada de concreto saiu das respectivas investigações..Ao contrário, em vez de mudanças, seguiram-se notícias de venda de acesso de mensagens privadas dos utilizadores a empresas digitais, numa escala muito superior ao anteriormente declarado. A Microsoft, a Spotify e a Amazon, por exemplo, tiveram acesso à informação sobre as ligações e as mensagens privadas dos utilizadores da plataforma..Um outro problema reporta-se ao facto de o controlo de conteúdos do Facebook, além de secreto e não escrutinado, ser feito por funcionários mal pagos e sob grande pressão, repartidos por várias partes do mundo em desenvolvimento. O tempo médio disponível para avaliar cada um dos milhares de novas entradas na plataforma é de cinco segundos, o que torna o sistema extenuante para os avaliadores, e pouco eficaz e fiável..Evidentemente, o Facebook é apenas parte do problema, pois outras empresas digitais à escala global, da Amazon à Google, da Netflix à Apple, trazem problemas relativamente à utilização dos dados que lhes são fornecidos voluntariamente pelos utilizadores. A rede das ligações pessoais não está de modo nenhum sozinha. Todavia, a verdade é que o Facebook tem mais implicações na vida política das nações e da comunidade internacional, assim como na qualidade da informação..Os utilizadores do Facebook, depois de darem gratuitamente os seus dados, vendidos com lucro, recebem de volta conteúdos que em grande medida seguem os interesses comerciais ou políticos de quem paga pelos dados. O enviesamento político torna a plataforma responsável pelo desenvolvimento de determinados sentimentos junto das populações, pelas vitórias de forças políticas menos escrupulosas, ou pelo crescente descrédito da informação divulgada. Nunca a população mundial esteve sujeita a tanta falsa informação como agora, e o Facebook é a empresa digital que mais contribuiu para isso..O que se pode fazer? Muitos utilizadores necessitam do Facebook para contactos pessoais ou para os negócios. Para esses será sempre difícil prescindir dos serviços da plataforma sem prejuízo. Mas muitos haverá que usam a plataforma apenas como fonte alternativa de informação ou forma de seguir determinados acontecimentos de carácter pessoal. Para estes, a saída da plataforma não terá grande custos. E poderá ter benefícios, já que a atenção poderá ser dirigida para outras plataformas ou para a imprensa. Nestes casos, o gesto trará pouco prejuízo, a nível individual, mas poderá ter grandes benefícios. Na verdade, quantas mais pessoas saírem, maior será a pressão para o Facebook mudar. É por isso tempo de sair..https://pedrolains.wordpress.com/.Professor universitário e investigador. Escreve de acordo com a antiga ortografia