E que tal uma quarentena das redes para animar?
A minha sobrinha Beatriz tem 8 anos e faz parte de uma geração que não conhece o mundo sem internet. Criou um perfil no Facebook no ano passado, com autorização da minha irmã, depois de mentir à descarada na idade (o que a mim me pareceu bastante precoce, mas a mãe é que sabe e nessas coisas não me meto). Dois dias mais tarde, ao ver que não tinha ido a correr amigá-la como toda a gente (confesso que demorei a ver a notificação e ainda estava a tentar perceber quem raios seria aquela miúda de 16 anos a pedir-me amizade), ligou-me muito digna, visivelmente amuada comigo, a dar-me a desanda do século pelo atraso imperdoável: "Suponho que devas ser uma pessoa muito ocupada para me deixares assim à seca!"
Senti-me um ser de outro planeta. Se possível, ainda mais a leste do que é costume por não ter Twitter, nem Instagram, nem um Facebook atualizado, nem seguir gente que fotografa sushi. Pior: a minha sobrinha de 8 anos, que tem uma maturidade acima da média mas não deixa de ser uma pirralha, fez-me sentir velha por não andar constantemente agarrada ao smartphone, nem ir para o café de tablet na mão - como ela faz quando está com os avós -, nem passar os dias a postar, tuitar, fazer likes e até obrigar o pai (havia de ser com o meu) a sair mais cedo do trabalho para levá-la à sessão de autógrafos da sua youtuber preferida, carregada de purpurinas e unicórnios. Sim, também os adoro, mas a vida não se resume a vê-los passar num ecrã.
E o que é que se pode dizer a uma criança que conseguisse, de alguma forma, fazer que tenha mais vontade de brincar do que de ver outros brincarem? Um quarto a abarrotar de Minnies e Pinypons como o da Bia, daqueles que poucos de nós tiveram em miúdos, parece sempre aquém de outros quartos do YouTube em que meninas brasileiras mostram como se faz diante da câmara. Uma quarentena das redes sociais não era nada mal pensada para se aproveitar melhor este tempo em casa.