É para Deus que Durão Barroso vai trabalhar

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Não se esqueça que o chairman e CEO do Goldman Sachs acredita que os bancos têm um desígnio social e se limitam a "fazer o trabalho de Deus". Numa velha e espantosa entrevista ao Times of London, que merece, claro, ser relida, Lloyd C. Blankfein disse mais: "Nós [bancos e banqueiros] somos muito importantes [...] Ajudamos as empresas a crescer ao ajudá-las a levantar capital. As empresas que crescem criam riqueza, dão emprego às pessoas, que criam mais crescimento e riqueza. É um ciclo virtuoso". [...] Eu sou só um banqueiro que está a fazer o trabalho de Deus". Assim, sem mais nem menos.

Nessa época, novembro de 2009, já em pleno subprime, mas ainda longe de se imaginar a crise que para aí vinha, e que arrasou muitas empresas, bancos e países, o americano de 62 anos, judeu e nascido no Bronx, disse esta enormidade quando o Goldman lucrava 3 mil milhões de dólares por trimestre. Era, e ainda é, à conta deste resultado celestial que o banqueiro de Deus enche os bolsos com chorudos prémios.

Passaram, entretanto, quase seis anos e o mundo do Goldman Sachs parece continuar a fazer parte do fantástico mundo de Blankfein. O lucro do banco aumentou, no segundo trimestre deste ano, 74% para 1,82 mil milhões de dólares. E, sim, mesmo depois de tantas suspeitas e investigações, o líder mantém-se e o banco continua, garantem, a mandar no Universo. Como Deus. Blankfein conseguiu dizer, na mesma entrevista, "compreender, ainda assim, que as pessoas se zanguem com os atos dos banqueiros. Eu poderia cortar os meus pulsos, que as pessoas celebrariam".

Muitos garantem que o Goldman Sachs esteve em tudo onde havia lodo até à ponta do nariz: na maré negra do golfo do México, na bolha da internet, na falência do Lehman Brothers, na manipulação das contas gregas e na crise do euro. Noutra entrevista, Marc Roche, que em 2012 editou um livro sobre os bastidores do grupo, diz que ali só entram alguns. "Agressividade e puritanismo são regras de ouro" num mundo onde até a dieta alimentar é controlada, disse ao Público. Na Europa, acrescenta, o banco não perde tempo com diplomatas e antigos primeiros-ministros. O alvo são ex-comissários e antigos banqueiros centrais. Como Monti, Draghi, atual presidente do BCE, e, agora, José Manuel Durão Barroso, o mais novo lobista da finança mundial. O homem que foi durante dez anos presidente da Comissão Europeia - uma década sem brilho, diga-se a bem da verdade - foi incapaz de não sucumbir, nem sei bem a quê, ou porquê. Não é discriminação, como defendeu o português, é sim moralmente condenável. No global e nos detalhes. Um pacto com o Diabo, com o banco que, conforme garante o presidente francês, explicava aos gregos como engatar as contas do país. Que as portas do céu estejam já fechadas para Barroso.

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