E os bolos voaram pelo ar à terceira noite de Sudoeste
São desde há muito um clássico, nas atuações de Steve Aoki, os bolos atirados ao público, tal como aconteceu ontem, mais uma vez, no Meo Sudoeste. A avaliar pelos cartazes com dizeres como "cake me", que, aqui e ali, se elevavam acima das cabeças, o momento é mesmo um dos mais aguardados da noite. É tal a importância da "hora do bolo", no espetáculo do DJ americano, que o seu raider técnico (a lista de equipamentos e condições exidos pelos artistas) dispensa nada mais nada menos que cinco páginas à confeção, consistência, tamanho e forma do mesmo. E desde há dois anos, aquando da última passagem do dj pelo festival, que os famosos bolos são feitos pela padaria lisboeta O Padeiro. "Já temos alguns anos de experiência em festivais de música e decidimos propor à organização sermos nós a confecionar os bolos", conta Carlos Bettencourt, um dos responsáveis pela pastelaria, a par da sua irmã Inês. Os bolos são feitos no próprio recinto do festival, no stand que a empresa tem na área de restauração do campismo, onde o pasteleiro António Fontes, vindo propositadamente de Lisboa, os vai construindo, camada por camada. Ao todo, tem de fazer 10 bolos. "Têm de ser muito leves e com uma camada de pelo menos 10 centímetros de chantili", revela António, confessando que acertou "logo à primeira" na consistência exigida pelo americano. Ainda lhe faz é uma certa confusão, ter tanto trabalho para os ditos acabarem em pedaços pelo ar, "mas é por uma boa causa", admite. Resta-lhe o consolo de saber que "há sempre quem os prove", mesmo no meio da confusão.
Antes dos bolos voarem pelo recinto, pela mão de Steve Aoki, passaram ainda pelo palco principal do Sudoeste o português Diogo Piçarra, o britânico James Morrison e a australiana Sia, naquele de foi um dos dias mais concorridos do festival, tal como as enormes filas de carro, logo desde o fim da tarde, o comprovavam.
No dia anterior, sexta, o brasileiro Seu Jorge e o jamaicano Damian Marley, bem como a curadoria dos Orelha Negra no palco Moche Room, foram os responsáveis por alguns dos melhores momentos musicais da vigésima edição do Meo Sudoeste. O músico carioca já tinha atuado há dois anos neste mesmo festival, mas ao contrário dessa ocasião, em que apresentou um espetáculo morno, apenas baseados nos êxitos, desta vez surpreendeu. Assumiu a condição de artista militante, ao recitar "Negro Drama", dos Racionais MC, numa longa dissertação sobre o racismo que empolgou o público, recuperou clássicos do samba como Você Abusou ou Mais que Nada e homenageou David Bowie com a versão de Life on Mars feita para a banda sonora do filme Um Peixe Fora de Água, Wes Anderson.
Também houve Carolina, Amiga da Minha Mulher e Burguesinha, cantados e dançados por todos, pais e filhos, mas para memória futura fica a imagem de um artista muito para além do espartilho samba-rock que o popularizou nos últimos anos. Como ficou mais uma vez provado, já quase no final do concerto, com um longo improviso dub a abrir caminho a Damian Marley, que trouxe de novo o reggae ao palco principal do Sudoeste. O filho mais novo de Bob Marley teve desde o início o público na mão, que se revelou conhecedor de temas como Land of Promise, Road to Zion ou Welcome to Jamrock, mas o momento mais memorável foi quando decidiu homenagear o pai, interpretando os clássicos Could You Be Loved? e Get Up, Stand Up - e pela segunda vez na mesma noite, as diversas gerações presentes cantaram e dançaram todas juntas.
O festival continua hoje com um dia quase dedicado em exclusivo à música eletrónica, em que a única exceção é o português Jimmy P, que irá abrir o palco principal, pelas 20h45. Seguem-se os irmãos colombianos Cali Y Dandee, os holandeses Sunnery James & Ryan Marciano, a dupla de manas australianas Nervo e o sueco Steve Angello, a quem cabe encerrar a vigésima edição do Sudoeste.