E nem a chuva parou o Vodafone Mexefest

Em noite de tempestade, foram muitos os oásis musicais, numa noite em que Gallant e Kevin Morby ganharam muitos mais fãs em Portugal
Publicado a
Atualizado a

A invernia que ontem se abateu sobre Lisboa não foi amiga do Mexefest. Em vez das habituais deambulações de sala em sala, o público optou antes por entrar, ficar e usufruir dos concertos até ao fim. Foi assim logo desde o início da noite, na surpreendente atuação de Fábia Rebordão no Palácio Foz, a mostrar que o fado também sabe ser pop.

Tal como pouco depois aconteceu com Gallant. Num dia normal de Mexefest, o primeiro concerto da noite no Coliseu dos Recreios é sempre um constante corrupio de entra e sai de gente, mas, graças à chuva, o cantor americano teve a receção que merecia, para uma atuação sobre a qual, por diversas vezes, pairaram espíritos como o de Prince ou Martin Gaye. Aliás, é mesmo caso para dizer que o futuro da soul passou ontem por Lisboa e que ele é quente e luminoso, ao contrário da noite lá fora.

Findo o concerto de Gallant, uma trégua no aguaceiro permite espreitar, na Garagem da EPAL, o Laboratório da Ciência Rítmica Avançada, onde anualmente são experimentados novas fórmulas para o hip-hop nacional. Não são muitas as cobaias (leia-se público), mas quem lá está sabe ao que vai e a festa faz-se em família, que ainda assim está cada vez mais numerosa. É então tempo de rumar até à Estação do Rossio, onde uma verdadeira multidão se acotovela para aclamar o americano Kevin Morby, que ora alterna entre a folk, a country e o mais puro e duro rock and roll, num concerto para ficar na memória e todos os presentes - "Portugal é o meu país favorito", dirá no final o músico, ficando longos minutos a agradecer aos fãs.

Um pouco mais acima, no Tivoli, era a brasileira, agora também lisboeta, Mallu Magalhães, quem encantava com um espetáculo intimista, de guitarra e violão, no mesmo local onde na sexta-feira se viveu um dos momentos mais animados da primeira noite, com o espetáculo Dinamite, que juntou nomes como Ana Bacalhau (Deolinda), Mitó (A Naifa), Márcia, Da Chick, B Fachada, D"Alva, Tochapestana ou Best Youth à volta da música de Dina. A plateia, bastante composta mas não esgotada, cantou e dançou do princípio ao fim, numa mais que merecida homenagem a uma das mais talentosas (e injustiçadas) compositoras do pop-rock nacional.

Do outro lado da Avenida da LIberdade, no Cinema São Jorge, era bem maior a ansiedade, especialmente dos que não chegaram a tempo de entrar no concerto da brasileira Céu, com a fila a prolongar-se vários metros além da escadaria. O mesmo cenário havia sido vivido um par de horas antes, à porta do Cine-Teatro Capitólio, durante a atuação do rapper americano Talib Kweli. Os que conseguiram um lugar, porém, podem-se orgulhar de ter assistido a uma verdadeira aula de história de hip-hop, dada por um dos mais eloquentes mestres deste estilo musical, com a palavra, sempre ela, a embalar um espetáculo no qual não faltaram referências a Michael Jackson, Nina Simone ou até aos Beatles.

Entretanto, com o avançar das horas e apesar de uma ou outra paragem em locais como a estratégica Garagem da Epal, todos os caminhos começam a ir dar ao Coliseu dos Recreios, transformado, durante duas noites seguidas, numa imensa pista de dança, onde a noite invariavelmente termina para a maior parte do público. Ontem pelo português Branko - pela primeira vez a solo depois da separação dos Buraka Som Sistema - e na sexta pelo trio australiano Jagwar Ma, que trouxeram à memória de muitos dos presentes (especialmente dos mais velhos) nomes como Happy Mondays ou Stone Roses, com um espetáculo a fazer lembrar a cultura rave da viragem dos 80 para os 90. Sim, estamos em 2016, mas uma festa é sempre uma festa e, afinal, é isso mesmo que o Mexefest é.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt