"Sporting pagou 1,7 milhões com assuntos da presidência" de Bruno Carvalho
Frederico Varandas falou esta sexta-feira, em conferência de imprensa no Estádio de Alvalade, sobre o estado da nação leonina, algumas questões da sua presidência, e, acima de tudo, deixou ainda fortes ataques e críticas à gestão do clube na era de Bruno de Carvalho.
O responsável leonino começou por referir que com base na auditoria forense que está a ser feita à gestão de Bruno de Carvalho, mas ainda não terminada, o Sporting gastou "1,7 milhões de euros em três anos" com assuntos de advocacia, mais do que o clube gastou com empresas de advocacia em 16 anos. "O Sporting pagou 1,7 milhões de euros com assuntos da presidência, contactos de Bruno de Carvalho e aconselhamento ao presidente", começou por dizer o presidente leonino, revelando que esta quantia foi paga à empresa MGRA, que tem ligações a um ex-sogro de Bruno de Carvalho. De seguida, o líder leonino referiu uma empresa à qual o clube pagou 60 mil euros, mas que não era reconhecida do Sporting e que acabou por fechar.
Depois mais revelações, entre as quais sobre o Batuque FC, clube de Cabo Verde, com o qual o Sporting tinha um "pré-acordo por sete jogadores". "Não existe relatório e, em 2018, foi pedida uma minuta de resolução do contrato. Em maio de 2018 foram pagos 330 mil euros, que ainda não foram restituídos", acrescentou.
Acerca das claques, Frederico Varandas foi claro: "É legítimo as claques criticarem a exibição da equipa, claro que é. Mas também é legítimo eu criticar a exibição das claques. E eu não gostei da atitude das claques nos últimos dois jogos em casa".
O presidente do Sporting referiu ainda que "a claque tem direito a mais de 800 bilhetes e podia comprar mais mil", acrescentando que a dívida passou de 115 mil euros para mais de 700 mil, e que "a quase totalidade é referente à Juventude Leonina". "Querem um grupo com mais internacionais portugueses? Com mais formação? Trabalhamos todos os dias para isso", garantiu, frisando ainda o ataque à Academia de Alcochete como "o dia do maior rombo financeiro e desportivo da história do Sporting".
"E agora, antes de um jogo importantíssimo em casa, voltamos a receber ameaças intimidatórias. Nos anos 90 fiz parte da Juventude Leonina. Havia excessos? Havia, mas era sobretudo um amor pelo clube, dar sem receber. Hoje não reconheço isso, vejo um negócio. Enquanto aqui estiver, o Sporting nunca mais será refém, nem de claques, nem de ninguém", afirmou ainda sobre o mesmo tema.
Garantindo que a sua presidência tem uma "política de transparência", porque "nenhum sócio gosta de ser iludido", recordou números importantes dos associados do Sporting. "A 9 de setembro tínhamos 84 mil sócios pagantes. Foi o número mais alto. Existiam 93 mil com quotas em atraso. Destes, 39 mil não pagam quotas há mais de cinco anos, e 51 mil há mais de três. Temos de crescer, mas com verdade, aumentando o número de sócios pagantes. Queremos fazer crescer em 50% o número de sócios pagantes", disse Frederico Varandas.
O presidente da equipa de Alvalade referiu ainda que "a partir de 2013 o clube comprou mais de cem jogadores". "Sabem quantos jogaram mil minutos? 68. E dos 38 jogadores que foram para a equipa B, nenhum chegou à equipa principal e a B desceu de divisão", afirmou.
Destacando a política de contratações no mercado de janeiro, que "diz muito" da maneira como a sua equipa trabalha, Frederico Varandas disse ter encontrado, quando chegou à presidência, "um plantel desequilibrado, com uma massa salarial muito pesada". "Queremos um plantel com grandes figuras, mas em que todos os outros possam jogar e acrescentem qualidade e, ao mesmo tempo, uma redução de custos. É possível fazer isto com competência, trabalhando na formação e com critério nas aquisições, que foi o que fizemos em janeiro", explicou, relembrando que o "Sporting teve nas duas últimas épocas o maior orçamento da história e venceu uma Taça da Liga, e nos últimos cinco anos ficou três vezes em terceiro lugar".
O presidente do Sporting referiu ainda o "abandono da academia", principalmente nas infraestruturas, e que tem "um rumo para o clube", enquanto implementa "reformas no futebol profissional, na formação, modalidades e máquina empresarial". "Não se ganha a bater com a mão no peito quando se treina mal durante a semana. As camisolas não vencem jogos, é a qualidade, que vem do trabalho sério. Sem estabilidade ninguém vence. Reparem nos anos de estabilidade dos nossos rivais e o tempo que demoraram a vencer. Estamos seguros deste rumo", garantiu.
Já numa fase de perguntas dos jornalistas, Frederico Varandas respondeu às acusações que Bruno de Carvalho lhe fez no livro que lançou recentemente, onde disse que o médico estava a preparar o assalto à presidência do Sporting desde 2016: "Um mentiroso compulsivo será sempre um mentiroso compulsivo. O senhor Bruno de Carvalho já obrigou duas vezes os sócios a saírem de casa e a dizer que o lugar dele é em casa e longe do Sporting. A acusação é ridícula. Sou sócio do Sporting desde que nasci, fui atleta até aos nove anos, estive um ano sem pagar quotas, neste caso os meus pais, e aos 10 anos o meu avô voltou a fazer-me sócio. Se não quisesse recuperar o número de sócio, tinha 20 anos de sócio, podia candidatarme as vezes que quisesse. Mas em 2016 aproveitei essa campanha e paguei um ano de quotas para ter 38 anos de sócio."
Outro elemento da direção do Sporting, Miguel Cal, responsável pela pasta do marketing, destacou inclusivamente a existência de "algum amadorismo na gestão anterior". "O dinheiro da bilheteira e da loja do Sporting era levado em mochilas pelo senhor Orlando, que chegou a levar 200 mil euros ao banco". Prometendo "alargar a gama de merchandising", destacou que os leões estavam "aquém dos rivais", com uma "organização em que o digital só tinha uma pessoa". "Quando chegámos ao Sporting deparamo-nos com um grande amadorismo na gestão que era feita. Não existiam processos, os sistemas estavam desatualizados e o hardware já estava fora do período de vida, em que se que o quiséssemos alterar tínhamos de procurar peças na sucata", acrescentou.
Francisco Salgado Zenha, vice-presidente do Sporting, traçou depois um diagnóstico das contas do clube, apelidando de irrresponsável a gestão de Bruno de Carvalho. "Quando tomámos posse encontrámos um clube numa situação de tesouraria difícil, pela necessidade premente de um revolving da emissão de empréstimo obrigacionista que tinha vencido em maio e foi estendido para novembro. Fizemo-lo numa conjuntura adversa, tivemos apenas um par de meses. Herdámos também uma dívida a fornecedores até junho de 2019 de mais de 40 milhões, a maior parte é com clubes e agentes. Herdámos o pagamento de metade do plantel do Sporting. Sou franco: a gestão que foi feita em 2018 foi completamente irresponsável. Em janeiro de 2018 o Sporitng estava a antecipar receita futura para comprar um jogador e um par de meses depois não ter dinheiro para pagar salários e ter de recorrer à conta reserva para comprar VMOCs", referiu.