"É importante haver uma cidadania mais participativa"

José Vieira Machado preside ao Movimento de Cidadãos por Gaia
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A cidadania ativa é um dos motores de uma sociedade saudável, acredita José Vieira Machado, 63 anos, reformado há dois, após mais de três décadas como funcionário da RTP. Hoje é presidente do Movimento de Cidadãos por Gaia, criado há seis anos por um grupo de gaienses. "É importante haver uma cidadania mais participativa em Portugal. As pessoas criticam muito em casa, no café, na rua, no Facebook, onde até comentam sobre coisas que nem sabem se são verdade. Mas depois não fazem nada para ser mudada a sociedade", diz o morador na freguesia de Canidelo, concelho de Vila Nova de Gaia, para quem o Presidente da República tem dado um bom impulso para que os portugueses tenham uma atitude mais viva e participativa enquanto cidadãos.

O movimento gaiense nasceu após o irmão Manuel Vieira Machado ter iniciado a contestação aos elevados preços da água no município da margem esquerda do rio Douro. "Ele decidiu dedicar-se mais a ir às assembleias municipal e de freguesia. A água em Gaia tinha um preço 60% superior ao do Porto e não havia razão para isso. Hoje já é mais barata. Foi o mote para criar, há seis anos, este movimento de cidadãos."

Atualmente são 98 pessoas associadas ao movimento que se dedicam a "todas as áreas, da social à cultural, à económica ou recreativa". Em oito freguesias do concelho, ao longo do ano, funcionam gabinetes de cidadania. "São espaços, em autarquias ou associações, em que temos pessoas para ajudar a resolver problemas. O preenchimento e entrega das declarações de IRS, por exemplo, é um dos apoios que damos. Mas há outros, as pessoas que procuram soluções para situações relacionadas com rendas, segurança social ou problemas fiscais, podem encontrar respostas. Se não as tivermos, procuramos encaminhar para quem as possa ajudar", resume José Vieira Machado, acrescentando números: este ano foram mais de 400 famílias que entregaram a declaração fiscal com ajuda do movimento e em seis anos "foram já mais de sete mil".

José Vieira Machado gosta de destacar que o movimento decidiu que prestar apoio às pessoas não implica que se tornem associados. "Não fazemos as coisas à espera que quem beneficia venha a tornar-se sócio do movimento. Aliás, decidimos que não queremos obrigar as pessoas a nada. Não devemos fazer as coisas à espera de contrapartidas. Isso é a verdadeira cidadania."

Palestras, tertúlias, ações de sensibilização ambiental, caminhadas à descoberta do concelho são outras das iniciativas do grupo. No próximo dia 10, realiza-se mais a primeira caminhada solidária, em Pedroso, com a inscrição a custar três euros. "A receita é toda para a associação Novamente, que apoia vítimas de traumatismos cranioencefálicos e suas famílias." É uma prática, diz, a entrega do dinheiro a associações que apoiam cidadãos com deficiência, como a CERCI, a APPACDM e APPDA. "Além de que o valor financeiro que entregamos é importante para a inserção destas pessoas com deficiências."

A maioria dos que participam são pessoas com mais de 50 anos. "A juventude não alinha, é um dos problemas que temos. Não sem explicar as razões, mas é um problema de muitas coletividades do concelho."

As dificuldades económicas criadas pela crise recente não mudaram muito o cenário. A troika, entende José Vieira Machado, "entrou no país porque foram gerados os problemas que a isso obrigaram". Por isso, "o anterior governo não tinha muita margem de manobra, mas fez coisas mal, ao gerir a dívida com cortes nos salários e nas pensões. É a maneira mais fácil e mais injusta. Acredito que agora este modelo de governo, da geringonça, está a provar que um governo de maioria absoluta não é o ideal. Agora, o PS governa mas tem dois partidos a controlar". O crescimento do turismo também veio mudar a situação. "Sem dúvida que está a ser muito positivo, basta olhar para a Ponte D. Luís e aquilo parecem formigas. Gaia está muito melhor e o turismo ajuda." Já os refugiados são uma situação mais complexa. "Se estamos num mundo global devemos receber qualquer pessoa. Temos de ser humanos e não podemos sacudir as pessoas. O medo das pessoas é o terrorismo, e é preciso ter limites e cuidados."

Há quatro anos, o movimento apresentou-se como lista independente às eleições autárquicas. A adesão foi fraca. "Até nos insultavam só por estarmos a concorrer: "Querem ir para lá para serem como os outros." A classe política está descredibilizada e há políticos que admitem isso. Mas as pessoas pouco fazem para mudar. Chegamos a encontrar pessoas com mais de 50 anos que nunca votaram."

No caso das autarquias, afirma que o apoio que recebem é importante. Mas a caminhada solidária que vão realizar obriga a "muitas licenças". É de "ruído, de ocupação da via pública e implica ter forças de segurança". Isto "não se justifica", diz, "tendo em conta que é solidária e de pequena dimensão. Devia haver isenções. Isto também é um obstáculo à cidadania".

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