E como está a nação? Patrões desconfiados, sindicatos atentos
Patrões e trabalhadores têm visões distintas sobre o estado da nação e se hoje estivessem sentados a uma mesa de negociações na Comissão Permanente da Concertação Social dificilmente chegariam a acordo. Na véspera do debate parlamentar, os patrões destacam a falta de confiança no país por parte de investidores. As duas centrais sindicais, CGTP e UGT, apesar de reconhecerem a evolução positiva, em termos de recuperação de direitos dos trabalhadores, nos últimos meses, não querem ouvir falar em retrocessos. Estão atentos e prontos para manter a pressão com greves e protestos nas ruas sempre que necessário. E está a ser necessário.
"O movimento sindical tem sido bastante condescendente porque entende que o governo está a fazer um esforço", afirma Carlos Silva, secretário-geral da UGT. O dirigente sindical diz que "o governo deve investir no combate à precariedade e na valorização da contratação coletiva", lamentando que no primeiro trimestre deste ano tivesse havido "menos trabalhadores abrangidos por contratos coletivos que em igual período de 2015". Carlos Silva recorda o acordo "tão penalizador" para os trabalhadores que a UGT assinou em 2012, "em nome do interesse nacional". "Não me venham pedir outra vez que se tirem direitos aos trabalhadores. Agora é a vez de os empregadores investirem e criarem empregos em nome desse mesmo interesse nacional", sublinha o secretário-geral da UGT.
Da parte da CGTP, há também uma nota "positiva" à evolução do estado da nação com a "geringonça", mas diz que "os processos têm de ser evolutivos e é preciso dar resposta a um conjunto de questões". O secretário-geral Arménio Carlos salienta também a necessidade de assegurar a contratação coletiva, para proteção dos direitos dos trabalhadores e o combate à precariedade. Com greves programadas no setor da saúde por causa das 35 horas (28 e 29 de julho), o dirigente sindical sugere ao governo "que comece a ter mais sensibilidade em relação às propostas apresentadas pelos sindicatos da CGTP". Não vale a pena, sublinha, "arrastar as negociações até à véspera da greve", como aconteceu noutros casos. "Se nos ouvir a tempo o governo pode evitar a radicalização dos processos face à ausência de respostas. É um alerta que deixo", frisa Arménio Carlos.
António Saraiva, o "patrão dos patrões" vê o estado da nação com um futuro demasiado incerto. "Não há confiança na relação de forças que sustenta o governo e isso continua a gerar muita instabilidade que não atrai investimento essencial à criação de emprego e ao crescimento da economia, sublinha o presidente da Confederação Industrial de Portugal (CIP). António Saraiva aponta as reversões de reformas que tinham sido iniciadas pelo anterior governo (como as 35 horas e o IRC) como "sinais de inquietação". Defende que "é preciso estabilidade legislativa, fiscal e laboral que dê tranquilidade aos investidores" e propõe que o governo dê "prioridade" ao "estímulo do investimento", através da "capitalização de empresas viáveis".
O presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) está pessimista e tem como "maior preocupação" a falta de investimentos: "Houve muitos investimentos que pararam completamente porque há uma nítida falta de confiança no enquadramento político do país." Apesar do crescimento no setor agrícola no primeiro trimestre, nota que "os últimos seis meses do ano vão ser decisivos para ver se se consegue retomar o ritmo de crescimento que vinha de 2015 e que está a desacelerar".
No setor do turismo - um dos que mais cresceu durante o governo PSD/CDS -, apesar das preocupações do ponto de vista macroeconómico, há otimismo. "Estamos muito otimistas. Arriscaria mesmo dizer que os resultados do turismo nacional em 2016 vão ser melhores do que os de 2015", assinala Francisco Calheiros, presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP). Regista que nos meses de governação socialista (no primeiro semestre deste ano) a evolução foi "muito positiva"com "os últimos dados do INE a indicarem que os estabelecimentos hoteleiros registaram 1,6 milhões de hóspedes e 4,1 milhões de dormidas no mês de abril, o que representa um acréscimo de, respetivamente, 7,7% e 6,2% em relação a igual período de 2015". Aguardam do governo "mais medidas de capitalização e investimento das empresas" que permitam torná-las "mais robustas e competitivas".