"É ambicioso, mas faltam meios"
O climatólogo francês Jean Jouzel, prémio Nobel da Paz em 2007 com o grupo de peritos do clima (GIEC), considerou hoje o acordo concluído hoje em Paris ambicioso, mas lamentou a falta de meios para atuar até 2020.
"É essencial atuar também antes de 2020 [data de entrada em vigor deste acordo] e aqui não há uma real ambição", afirmou, lembrando que o acordo não impõe uma revisão dos compromissos atuais dos países e que colocam o mundo na trajetória de aumento de 3 graus centígrados (3ºC) antes de 2025.
"Será demasiado tarde para os 1,5ºC e muito difícil para os 2ºC", sublinhou.
Jouzel considerou o objetivo de 1,5ºC "um sonho e talvez demasiado ambicioso, mas legítimo sobretudo para os países mais vulneráveis", sujeitos à subida da água do mar, fenómenos extremos, ou à destruição dos recifes de coral.
"1,5ºC em vez de 2ºC é importante para esses países, mas parece irrealista. Isso quer dizer que teríamos o direito a cinco ou dez anos de emissões [de gases com efeito de estufa] ao ritmo atual", afirmou.
O climatólogo defendeu o objetivo de 2ºC, o que "já é difícil, mas deve ser mantido para se conseguir uma adaptação aos efeitos das alterações climáticas".
Jean Jouzel afirmou que o êxito deste acordo se deveu ao desenvolvimento de soluções energéticas sustentáveis, o que não se antevia em 2009, em Copenhaga, onde a comunidade internacional não conseguiu alcançar um entendimento para combater as alterações climáticas.
"As energias renováveis desenvolveram-se e em alguns países são já competitivas. Os automóveis elétricos avançam. Há uma esperança de ver as emissões de CO2 (dióxido de carbono) a estagnar este ano, a nível mundial, uma vez que a China se lançou nas renováveis e eficácia energética", disse.
"Espero que a Índia (onde as emissões estão em forte crescimento) possa tomar o mesmo caminho que a China", sublinhou o cientista francês.
A Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP21) aprovou um acordo global vinculativo entre 195 países, desenvolvidos e em desenvolvimento, que se comprometem a caminhar para uma economia de baixo carbono e tomarem medidas para limitarem o aquecimento global da atmosfera até 2100 a 1,5 graus centígrados, em relação aos valores médios da era pré-industrial.