Dúvidas sobre o jornalismo 2.0

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A Internet é má para o jornalismo. Esta era a visão de muitos jornalistas quando Mark Briggs se iniciou no jornalismo online, em 2000. O autor de Journalism 2.0 (disponível em português do Brasil em http/knightcenter.utexas.edu/Jornalismo_20.pdf) considera que as tecnologias "melhoram o jornalismo, são novas ferramentas mas mantêm-se os mesmos princípios éticos e de fiabilidade" necessários ao bom jornalismo.

Na Primeira Conferência Internacional sobre Jornalismo de Investigação e Novos Meios Tecnológicos, que decorreu sexta-feira em Lisboa, Briggs apontou três tendências importantes de fusão entre jornalismo e tecnologias, agrupadas em transparência, autenticidade e cooperação colaborativa.

No primeiro caso, deu exemplos de media que agregam online informação como os ordenados dos funcionários públicos ou os buracos nas ruas da cidade, difícil de actualizar nas edições em papel mas útil para os cidadãos.

A autenticidade é estar mais perto da audiência, "é ter uma conversa e não ser orador", explicou, lembrando como no seu ex-jornal The News Tribune (Washington) um jornalista queria publicar uma história que não encaixava nos critérios da edição em papel e acabou disponibilizada em cinco capítulos no sítio Webdo jornal. "Liguem-se à vossa comunidade", incentivou.

Por último, reforçou a necessidade de o jornalista ajudar a audiência para que esta retribua. "O jornalismo é conversa, o jornalista não sabe de tudo nem conhece toda a gente", lembra. Por exemplo, ao disponibilizar online informação obtida pelo jornal em bruto, pode deixar os leitores descobrirem incoerências ou falhas. Ou como se comprova no trabalho do psicólogo Paulo Sargento na Universidade Lusófona. Recriou em 3D os passos dos envolvidos no caso Maddie a partir das linhas cronológicas reveladas pelos media ingleses BBC e The Times e pelo Público e o Sol. Essa simulação informática substituiu a inexistente recriação real com os envolvidos e "veio demonstrar que algumas declarações estavam erradas", assegura Sargento.

Ferramentas como a Internet forçam mudanças no jornalismo e colocam novos problemas éticos ou em termos de privacidade na protecção das fontes, por exemplo. Oscar Mascarenhas, jornalista e docente, é frontal: "A segurança das fontes confidenciais usando meios tecnológicos" como o e-mail "não existe" porque o que se passa no mundo digital deixa rastos e pode ser vigiado.

Também por isso, o ensino de tecnologias devia entrar nas escolas de jornalismo. "Ensinar técnicas é simples [mas] mais difícil é ensinar a ser jornalista de investigação", diz Paulo Moura, jornalista e docente da Escola Superior de Comunicação Social.

As tecnologias "abrem novas perspectivas" e "tem-se a ideia dos meios tecnológicos como substitutos do jornalismo de investigação, mas não é verdade" - excepto em áreas como o terrorismo islâmico que comunica e se organiza pe-la Internet. Até porque nem tudo está na Net, os dados podem estar incompletos ou não serem verdadeiros. No entanto, "devido à tecnologia, temos um melhor jornalismo - há muito mais informação mas também é mais fácil encontrar o que se precisa", lembrou Briggs.|

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