Paulo Jorge Almeida voltou a confessar a autoria dos disparos que mataram as duas vítimas, tal como fez quando se entregou às autoridades em novembro de 2013 e ao Juíz de Instrução Criminal, mas hoje entrou em contradição quando voltou a descrever os factos..O arguido, em prisão preventiva desde que se entregou às autoridades, disse agora aos juízes do Tribunal de Loures que saiu de casa, ao final da tarde de 29 de fevereiro de 2008, armado com a intenção de se suicidar e que abordou Alexandra Neno apenas "para conversar". Esta estava dentro do carro e assustada começou a gritar e buzinar. Numa tentativa de "a acalmar", o arguido apontou-lhe a arma e quando ela tentou desviar o seu braço, "houve um disparo". Na primeira versão tinha dito que lhe pediu o telemóvel e que quando lhe apontou a arma a queria "silenciar"..Nessa mesma noite e depois de ter passado em casa, Paulo Jorge Almeida decidiu ir ao Oeiras Parque para "se vingar" do chefe, que o tinha apanhado a dormir durante o trabalho, alegadamente devido à medicação que estava a tomar. Contou, na primeira sessão de julgamento, que apenas queria "riscar o carro ou furar um pneu", mas tinha com ele a arma..Diogo Ferreira e um amigo ouviram um barulho, quando o homicida deixou cair a chave de fendas com que tentava forçar a fechadura do carro, já depois da meia-noite. Os dois jovens aproximaram-se e o ex-vigilante pediu-lhes para se "irem embora dali". Como eles continuaram a andar decidiu "dar um tiro para o ar", disparo esse que viria a atingir Diogo Ferreira e que levaria à sua morte três dias depois. No primeiro interrogatório, o arguido disse que "disparou na direção" dos dois jovens..Depois do disparo decidiu sair do parque de estacionamento e na mesma madrugada, agora já dia 1 de março, dirigiu-se à zona das Amoreiras, em Lisboa, onde acabou por disparar mais uma vez a arma, desta vez contra um carro que seguia à sua frente, depois do condutor ter feito uma "manobra mal feita". Atingiu o depósito de combustível do carro..Hoje, Paulo Jorge Almeida sublinhou que estava a tomar medicação para os problemas psicológicos. "Não é fácil. Saí de casa para me suicidar e não para matar ninguém". Garantiu em tribunal que já tinha pedido ajuda várias vezes para lidar com os problemas psicológicos e que estava a ser acompanhado por um psiquiatra. Ao Juiz de Instrução Criminal tinha dito que saiu de casa com duas intenções: o suicídio, por estar de baixa médica, sentir-se isolado e por ter acompanhamento psiquiátrico, ou cometer um roubo para "sentir a adrenalina" do uso da arma..Aos juízes do Tribunal de Loures não conseguiu explicar porque só se entregou passados quase seis anos após os crimes. "Esperava na altura que a nossa polícia, que é boa, me fosse buscar a casa". Lamentou as mortes e defendeu que ao entregar-se fez "o correto, independentemente dos anos que passaram. Não consigo combater isto que eu tenho. Fiz mal e estou aqui para pagar pelo que fiz"..À saída da sessão da manhã, o advogado do arguido referiu que este tem "inimputabilidade reduzida". Tomás Batarda acrescentou que na altura dos factos, o homem vivia numa grande instabilidade psicológica e que os relatórios psiquiátricos vão ser importantes no julgamento.