Duplo desafio: ganhar e 'fugir' da Alemanha

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A primeira ronda de jogos passou a mensagem de que Portugal pode ter uma palavra a dizer neste Europeu. Em termos de impressão, só a Holanda, com os surpreendentes 3-0 à Itália, campeã do mundo em título, fez melhor. Apesar disso, num torneio destes, curto e equilibrado, o estatuto ganha-se jogo a jogo - e o de hoje, com a República Checa, é um desafio aparentemente mais complicado do que o turco, porque embora esta já não seja a equipa dos tempos áureos de Nedved e Poborsky continua a ser equilibrada, forte, e muito evoluída tacticamente. Melhor que a República Checa, em teoria, só estão as selecções dos países históricos, e algumas delas, como a França e a Itália, até desiludiram na primeira subida ao palco.

Para ganhar, Portugal tem de jogar ao seu melhor nível, com o espírito colectivo que lhe permitiu banalizar a Turquia. Só a partir daí se poderá esperar que funcione o talento de Cristiano Ronaldo, ou de outros que possam aparecer com a força e o talento que no sábado se viu em Pepe e João Moutinho.

Não é este o momento para surpresas. Nem Scolari é um homem delas. Por isso, a equipa deve jogar com a mesma estrutura e composição. Só depois, na sequência das circunstâncias, pode haver opções diferentes daquelas que marcaram as substituições no primeiro jogo. Então, Nani, Meira e Meireles foram escolhidos pela trajectória de um triunfo iminente.

E no caso de Portugal estar a perder? Que opções tem o treinador?

Já se percebeu que Nani será sempre a primeira dessas opções. É um jogador polivalente. Permite até, como se viu, considerar Ronaldo como ponta-de-lança. As outras dependem.

Para render directamente Nuno Gomes pode sempre saltar Hugo Almeida, um jogador com um perfil muito "checo", forte e batalhador. E depois há Quaresma, que quando um dia for chamado há-de entrar com a vontade de chamar "incompetente" ao treinador. O que pode não ser de todo um mau espírito se Quaresma não se deixar levar em demasia pelo egocentrismo que lhe tem pautado a carreira.

Esta não é uma selecção que em termos ofensivos (só resta referenciar Hélder Postiga) tenha um vasto conjunto de soluções. Há muito mais variedade na primeira metade do campo, onde Jorge Ribeiro deve ter vindo para fazer um papel igual ao que anteriormente foi de Boa Morte e Hugo Viana.

Um dia talvez a selecção possa juntar na frente de ataque Quaresma--Ronaldo-Nani, o que qualquer espectador gostaria que acontecesse de início, e já hoje. Mas não é o tempo. Com Scolari muito menos. E a verdade é que ainda falta percorrer algum caminho para que os três tenham condições para coexistirem. Não seria bom sinal, aliás, que este jogo com a República Checa, a determinada altura, viesse a permitir que Portugal antecipasse em dois anos a linha atacante do futuro.

Falta dizer que está mais nítido o que já era previsível e óbvio: a Alemanha, que ganhará o grupo B, estará no caminho do segundo classificado do nosso grupo. Portugal, se acabar à frente no A, vai encontrar a Croácia ou a Polónia. Este é um bom objectivo para transmitir ao grupo: transferir o possível encontro com os germânicos, que nos ganharam na "final de consolação" do último Mundial, para depois. A não ser que o jogo de hoje venha a ser um ensaio para um outro, entre as mesmas equipas, que pode muito bem acontecer na meia-final de dia 25, em Basileia.

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