Dupla de autores deu vida a Pedro Xavier

Dulce Maria Cardoso e Luís Mário Lopes foram os autores que durante um mês deram vida a Pedro Xavier, um jovem que viveu o 25 de Abril de 1974 e que contou a sua história no Facebook, partindo do princípio que a rede social já existia nessa altura.
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A revelação de quem alimentou a história de Pedro Xavier no Facebook só surgiu depois de terminada a narrativa, pois o objetivo sempre foi que as atenções se centrassem na personagem e não em quem escrevia. Luís Mário Lopes disse, em tom de brincadeira, que, assim, os seguidores "foram ganhos honestamente". "Foi ele [Pedro Xavier] quem recebeu o carinho das pessoas", referiu durante a apresentação de quem participou neste projeto, que realizou-se esta tarde no Teatro Maria Matos, em Lisboa.

A ideia de criar um pessoa fictícia que tenha vivido a Revolução dos Cravos partiu do diretor artístico do Teatro Maria Matos, Mark Deputter, inspirada num exemplo de uma página de Facebook com um soldado da I Guerra Mundial. A Dulce Maria Cardoso juntou-se o dramaturgo Luís Mário Lopes, que a romancista admitiu ser o único autor com quem consegue trabalhar. No entanto, confessou que houve muitas discussões para construir a narrativa de Pedro Xavier, mas ambos ficaram satisfeitos com o trabalho e com a participação dos seguidores. Dulce Maria Cardoso aponta apenas que "poderia ter corrido melhor" se o público tivesse enviado mais fotografias.

Aliás, os autores encontraram grande resistência quando tentaram pedir fotografias da época em fóruns. Contam mesmo que até chegaram a receber respostas muito pouco simpáticas. "Ainda temos tanto medo" depois de 40 anos de democracia, salientou a escritora. Acrescentou que primeiro havia o medo de partilhar essas fotografias antigas - no entanto, frisou que colocam no Facebook imagens sobre tudo o que acontece nas suas vida -, depois surgiram mensagens a questionar "o que vão lucrar com isso", seguindo-se as tais respostas pouco simpáticas.

O grande desafio de ambos foi escrever numa plataforma tão diferente da que estão habituados. "O Facebook convida a tudo menos a um trabalho literário", realçou Dulce Maria Cardoso, dizendo que o imediatismo, a necessidade de "não maçar" e ter "preocupações políticas e éticas". "É quase o contrário do que um romancista faz. Foi um desafio interessante", acrescentou Luís Mário Lopes.

O projeto contou ainda com a colaboração de Cristina d'Eça Leal, que não só tratou das imagens, como foram delas as primeiras a surgirem na página de Facebook e é ela a Luísa (namorada de Pedro Xavier) na fotografia. Rita Tomás, da assessoria de comunicação do Teatro Maria Matos, contribuiu com a coordenação entre a narrativa e como utilizar da melhor forma a rede social.

Um dos pontos que mais comoveu todos os que participaram no projeto foi a forma como as pessoas interagiram, desde dar conselhos e até zangarem-se e revoltarem-se com as decisões de Pedro Xavier. Dulce Maria Cardoso referiu que parecia que Pedro não podia vacilar, mas foi precisamente essa parte da personagem que as pessoas mais gostaram. A romancista salientou ainda que "apesar da parte ideológica, o que prendeu as pessoas foi a história de amor".

A narrativa chegou ao fim, mas a página vai manter-se online e, talvez, Pedro até possa responder se as pessoas continuarem a querer interagir com o jovem de 18 anos que conseguiu encontrar a sua namorada Luísa em pleno período de revolução no país.

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