Duelo Bernie-Pete, uma surpresa, duas baixas e o fim de Biden? Vem aí o Nevada
Ainda nem tinham acabado de contar os votos no New Hampshire e já Joe Biden estava a caminho da Carolina do Sul. O ex-vice-presidente de Barack Obama abandonou a festa da sua campanha a meio depois de ter ficado em quinto lugar nas primárias democratas de dia 11 naquele estado que deram a vitória ao senador Bernie Sanders. Mas será mesmo o fim das esperanças de Biden chegar à Casa Branca?
Depois do caos provocado pelos problemas na aplicação que comunicou os resultados dos caucus de dia 3 no Iowa, no New Hampshire a votação e a contagem decorreram de forma mais tranquila. Durante a noite, Sanders foi declarado vencedor, com 25,7% dos votos, garantindo assim nove delegados à convenção democrata de Milwaukee marcada para julho. Os mesmos delegados obteve Pete Buttigieg. Depois de uma vitória surpreendente no Iowa, o ex-mayor de South Bend ficou em segundo lugar no New Hamsphire, com 24,4% dos votos. E confirmou que se muitos achavam que ele nem devia estar na corrida, o veterano da guerra do Vietname, de apenas 38 anos, parece ter vindo para ficar.
"Esta vitória aqui é o princípio do fim para Donald Trump", afirmou Sanders num comício em Manchester. O senador do Vermont, que em 2016 também venceu a primária do New Hampshire, deixando a rival Hillary Clinton a 20 pontos de distância, prometeu construir "um movimento político sem precedentes, multigeracional e multirracial" para tirar o republicano da Casa Branca.
E a verdade é que neste momento Sanders parece estar na melhor posição possível para enfrentar as primárias nos estados que se seguem: o Nevada no dia 22 e a Carolina do Sul a 29. Antes da mais do que decisiva Super Terça-Feira, com 14 estados e 1651 delegados em jogo a 3 de março. Para conquistar a nomeação do Partido Democrata um candidato precisa de 1990 delegados.
Apesar de as suas propostas mais radicais afugentarem alguns democratas mais moderados, o senador tem muito apelo junto dos jovens e é mais popular junto dos negros do que Buttigieg. Mas não falta quem ainda estremeça diante de algumas ideias do autoproclamado "socialista democrata". Se obtiver a nomeação, Sanders será o candidato mais à esquerda e antissistema a apresentar-se a umas presidenciais desde George McGovern em 1972. E muitos ainda terão na memória a vitória esmagadora de Richard Nixon nesse ano, com o republicano a conquistar 49 dos 50 estados americanos.
Apesar dos mais do que bons resultados nas duas primeiras primárias, Pete Buttigieg deverá ter a vida mais complicada do que Sanders nos próximos estados. Sobretudo quando chegar ao sul, onde o voto negro pode ser determinante. O ex-mayor de South Bend, cristão devoto e gay assumido, não tem conseguido conquistar os afro-americanos, com apenas 4% dos inquiridos a dizer que votarão nele, segundo um estudo da Universidade Quinnipiac. Sanders, apesar de mais popular entre os negros, também não chega aos 20% de intenções de voto naquele eleitorado.
Para já, Buttigieg agradeceu aos apoiantes os bons resultados e alertou contra "uma visão polarizada" da política americana, numa farpa tanto a Trump como a Sanders. O ex-mayor afirmou-se como o centrista que vai conseguir trazer novos votos ao partido e ignorou o ataque de Sanders que afirmou estar na corrida para derrotar "os milionários e os candidatos financiados por milionários".
"Há uma semana toda a gente achava que estávamos fora da corrida, mas eu regressei e conseguimos", afirmou Amy Klobuchar depois de terminar em terceiro lugar no New Hampshire. O estado confirmou a sua tradição de criar comeback kids, os candidatos que voltam à corrida depois de um arranque difícil no Iowa. Resta saber até onde vai a senadora do Minnesota.
Aos 59 anos, Klobuchar apostou tudo no New Hamsphire, fazendo campanha até ao último minuto naquele estado e o esforço parece ter sido recompensado. É com novo vigor que agora chega ao Nevada e à Carolina do Sul. Mesmo se lamenta que ser mulher ainda pareça ser uma desvantagem em 2020. Segundo uma sondagem realizada no New Hampshire, 30% dos inquiridos consideram que será mais difícil para uma mulher do que para um homem bater Trump a 3 de novembro.
A noite eleitoral no New Hampshire causou duas baixas na campanha: o empresário Andrew Yang e o senador do Colorado, Michael Bennett, suspenderam as suas campanhas depois desta primária. O segundo obteve 03% dos votos e não se qualificava para um debate desde agosto, e o primeiro, apesar dos 2,8%, optou por fazer uma pausa, mostrando-se orgulhoso por ter "trazido uma mensagem de humanidade primeiro e uma visão de uma economia e uma sociedade que funcionam".
Quem continua na corrida, apesar dos resultados dececionantes, são Elizabeth Warren e Joe Biden. A senadora do Massachusetts foi quarta no New Hampshire, com 9,2% dos votos. Na disputa pelo voto liberal Warren parece estar a perder em toda a linha para Sanders, mas a senadora garantiu que não vai desistir: "A nossa campanha foi feita para uma corrida de fundo e ainda agora estamos a começar."
Depois de um dececionante quinto lugar, a grande dúvida é até onde pode ir Joe Biden. O claro favorito à partida para a corrida à nomeação democrata ainda não conseguiu descolar, tendo ficado em quarto no Iowa. Pela primeira vez, as sondagens nacionais colocam-no atrás de Sanders nas intenções de voto.
Aos 77 anos, o ex-senador e ex-vice-presidente de Obama conta agora com o apoio dos afro-americanos para inverter esta tendência, sobretudo na Carolina do Sul, onde os negros representam dois terços do eleitorado democrata. Mas se acreditarmos na mesma sondagem da Universidade Quinnipiac, que mostra uma queda no apoio a Biden entre a comunidade negra de 52% para 27%, o futuro não parece nada promissor.
Enquanto os rivais se atacam uns aos outros e se desgastam nas primárias do Iowa e do New Hampshire, dando inclusive má imagem do partido com o caos que se seguiu aos problemas na contagem dos votos nos caucus, Michael Bloomberg continua a sua corrida paralela à nomeação.
O milionário ex-mayor de Nova Iorque decidiu não fazer campanha nem se apresentar nos primeiros estados, apostando tudo na Super Terça-Feira. Enquanto os rivais se concentravam no Iowa, New Hampshire, Nevada e Carolina do Sul, Bloomberg pode ser visto em todo o lado menos nos primeiros estados das primárias. Uma quinta no Minnesota, um espaço de coworking no Utah, a inauguração de uma empresa no Maine, com paragens na Califórnia, no Texas e no Arkansas.
Até agora nunca um candidato que tenha desprezado os primeiros estados obteve a nomeação. Mas Bloomberg não é um candidato qualquer. Oitavo homem mais rico dos EUA, com uma fortuna que a Forbes avalia em mais de 53 mil milhões de dólares, o que faz dele a 14.ª pessoa mais rica do mundo, Bloomberg construiu um império dos media a partir do nada. E parece disposto a gastar uma boa parte da sua fortuna pessoal para tirar Donald Trump da Casa Branca.
Nascido em Boston, Bloomberg cresceu numa família judia de classe média. Filho de um contabilista, formou-se na Universidade Johns Hopkins e começou a carreira na banca de investimento, antes de usar o dinheiro que ganhara para fundar a sua própria empresa, a Bloomberg LP. A política sempre fez parte da vida de Bloomberg, mas em 2001 avançava com a candidatura à Câmara de Nova Iorque. Democrata de toda a vida, deixou o partido para se apresentar pelos republicanos, apenas para mais tarde se registar como independente e vencer um segundo mandato, tendo conseguido ainda um terceiro - o que o colocou à frente da cidade entre 2002 e 2013.
Com uma vasta experiência de gestão executiva nos oito anos em que foi mayor de Nova Iorque - um colosso que gere um orçamento anual de mais de 90 mil milhões de dólares e organiza a vida de quase 8,5 milhões de pessoas -, Bloomberg destaca-se entre rivais com muita experiência política mas menos habituados a lidar com os problemas do dia-a-dia.
Este passado de empresário de sucesso e bom gestor parece fazer dele o homem ideal para destruir os argumentos de Trump quando usa o seu passado nos negócios como prova do seu sucesso e capacidade negocial. Isto apesar de ser acusado de falta de carisma. O frio e calculista Bloomberg seria com certeza um contraste em relação aos episódios de raiva a que Trump já habituou a América e o mundo no Twitter.
22 de fevereiroCaucus do Nevada
29 de fevereiro Primárias na Carolina do Sul
3 de março Super Terça-Feira, 14 estados em jogo, incluindo Califórnia, Texas, Carolina do Norte e Virgínia
10 de março "Mini Super Terça-Feira", sete estados em jogo, incluindo o Michigan
Até ao fim de março Mais sete estados a votos, incluindo Florida, Illinois e Ohio
Abril Mais 11 estados em jogo, entre os quais Nova Iorque e Pensilvânia
Maio/junho Os últimos 13 estados votam, incluindo Nova Jérsia
13 a 16 de julho Convenção Democrata de Milwaukee, Wisconsin
24 a 27 de agosto Convenção Republicana de Charlotte, na Carolina do Norte
3 de novembro Eleições presidenciais