Dubai Frame, a moldura para a megalomania
A data da inauguração ainda não está marcada, mas é já uma das maiores atrações dos Emirados Árabes Unidos. Chama-se Dubai Frame e, como o nome em inglês indica, assemelha-se a uma moldura em tamanho XXL. A mais recente extravagância do emirado do xeque Mohammed espera receber dois milhões de visitantes por ano. No entanto, o monumento à monumentalidade - passe a expressão - do Dubai está manchado por uma história pouco edificante.
Em 2008, o município do Dubai e a empresa de elevadores ThyssenKrupp promoveram um concurso de arquitectura. Entre os mais de 900 projetos submetidos, foi escolhido o do mexicano Fernando Donis. Em 2013, o arquitecto não aceitou as cláusulas do contrato. No ano seguinte, a construção começou e, em relação ao original, sobressai um revestimento de aço inoxidável dourado e tem menos 12 metros de largura. Ao silêncio das autoridades árabes, o arquitecto, que se queixa de roubo de propriedade intelectual, respondeu com uma ação judicial.
O Dubai Frame simboliza o que o emirado de cerca de três milhões de habitantes mudou. Segundo a empresa especializada Emporis, o Dubai conta com 540 arranha-céus e 1300 edifícios altos (entre 50 e 100 pisos). Entre eles sobressai o Burj Khalifa, o mais alto do mundo, inaugurado em 2010. Mas também o Burj Al Arab, hotel em forma de vela que tem a fama (errada) de ter sete estrelas de classificação. Outras construções famosas são as ilhas artificiais, das quais sobressai a Palm Jumeirah, que vista do céu tem a forma de uma palmeira.
O facto de o emir e primeiro-ministro do Dubai ser de uma das famílias mais ricas do mundo e um empresário que privilegia a construção não é um acaso. O xeque Mohammed bin Rashid al Maktoum, chegou oficialmente ao poder com a morte do irmão, mas era ministro da Defesa desde 1971. E nos anos que antecederam a sua ascensão ao cargo de emir já preparava as reformas políticas que o emirado veio a sofrer. Enquanto empresário, o xeque Mohammed criou a companhia aérea Emirates (administrada pelo irmão Ahmed), a DP World (operador de portos e transportador marítimo), e foi o maior impulsionador das construções icónicas do emirado. Como líder que prega valores humanitários, Mohammed reserva parte da sua fortuna em ações filantrópicas. Por exemplo, a sua fundação, a MBRF, anunciou um programa para erradicar a iliteracia a 30 milhões de árabes até 2030.
Os Emirados formaram um Conselho de Soft Power, uma iniciativa que se enquadra no objetivo do país se tornar “um exemplo global de prestígio e excelência”. A modernização do Dubai é vista como um capítulo na rivalidade entre as monarquias do Golfo Pérsico, em especial a dos Emirados e o Qatar. “Sem dúvida que há uma competição pela hegemonia do soft power entre as monarquias do Golfo”, confirma à AFP o professor do King’s College de Londres Andreas Krieg.
Mais arranha-céus
A partir de 2020 o Dubai Frame terá mais dois pontos de interesse para observar: a Dynamic Tower e a Creek Tower. A primeira é uma ideia do arquitecto ítalo-israelita David Fisher: um edifício de 80 andares e 388 metros, em espiral, e que tem como característica única a possibilidade de cada piso rodar em qualquer sentido. O Burj Khalifa, do alto dos 828 metros, irá perder o título de edifício mais alto do mundo. Com conclusão prevista para 2020, a Creek Tower está a ser construída no Dubai Creek Harbour, projeto turístico e residencial. Da autoria do espanhol Santiago Calatrava (autor da estação do Oriente, em Lisboa), a torre terá 928 metros e a mesma funcionalidade do Dubai Frame: uma torre de observação.
Mas as construções desmesuradas não são exclusivo do emirado. Na segunda maior cidade da Arábia Saudita, está em construção a Jeddah Tower, edifício de habitação e comércio que vai chegar aos 1008 metros de altura. Para os japoneses um quilómetro não é suficiente. Em fevereiro foi apresentado o projeto Sky Mile Tower, uma torre de 1 600 metros de altura que, a avançar, não será inaugurada antes de 2045. Faz parte de um projeto de uma cidade flutuante na baía de Tóquio.