Duas mulheres, dois destinos

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Duas mulheres, filhas de generais, enfrentam-se este domingo nas urnas para decidir quem vai substituir o Presidente do Chile, o conservador Sebastián Piñera. Concorrem nove candidatos mas só dois têm a possibilidade de ganhar - sendo que a direita, só numa segunda volta.

A ex-presidente socialista Michelle Bachelet é filha do general Alberto Bachelet, que pagou com a vida a lealdade à Constituição por se recusar a participar no golpe contra o presidente Salvador Allende, em 11 de setembro de 1973. A concorrente, da direita, Evelyn Matthei, é filha de Fernando Matthei, antigo membro da junta militar, processado pela sua participação na tortura, e consequente morte, do seu antigo amigo e camarada de armas, o general Bachelet.

Na infância, eram amigas, unidas pelas carreiras dos pais na Força Aérea, mas a vida separou-as. Enquanto Bachelet viveu no exílio, na RDA, onde teve de terminar os estudos de Medicina, Matthei desfrutava, no Chile, dos benefícios de ser filha de uma das figuras mais destacadas do regime de Pinochet, o que lhe abriu as portas da política.

As sondagens refletem com clareza as duas vertentes em jogo: se Bachelet conseguirá uma maioria absoluta na primeira volta e se os seus aliados, que vão a votos na corrida ao Parlamento, que também é escolhido no domingo, poderão alterar a Constituição herdada de Pinochet.

As conclusões do Centro de Estudos Públicos são representativas do sentimento da maioria dos cidadãos quanto à redução das disparidades do rendimento e o fim do negócio da educação, área que tem registado grande agitação desde 2011.

E neste particular Matthei tem um ponto de grande fragilidade: o pai foi o responsável pelo processo de privatização da saúde quando foi ministro da pasta.

Bachelet deverá governar com o apoio dos atores políticos e dos movimentos sociais. O Partido Comunista, que pela primeira vez é parte da coligação de centro-esquerda, vai jogar a sua carta mais mediática, apresentando como candidata ao parlamento a líder estudantil Camila Vallejo, que ganhou notoriedade na comunicação social em todo o mundo.

A "comandante Camila" é uma forte crítica do sistema, especialmente na vertente da educação, em que 78 por cento das matrículas do ensino primário e médio das escolas e universidades públicas eram gratuitas antes da sanha privatizadora de Pinochet.

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