Duas mil pessoas por ano são vítimas de morte súbita

Casos têm vindo a diminuir na última década e são sobretudo mediatizados no desporto. Desfribilhadores não são solução milagrosa. Mas salvam a vida a 20% dos doentes
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Na última semana, o basquetebolista Kevin Widemond foi vítima de morte súbita, no intervalo de um jogo da Ovarense. Em Portugal, cerca de duas mil pessoas morrem por ano de forma fulminante, sobretudo por enfarte do miocárdio e miocardiopatia. Os desfibrilhadores, utilizados na reanimação destes doentes, são há muito reclamados em recintos desportivos. Mas apenas conseguem salvar 20% destes doentes.

Apesar do elevado número de vítimas, as mortes súbitas têm vindo a diminuir na última década, garante o coordenador nacional para as doenças cardiovasculares, Rui Ferreira. No entanto, o mediatismo de algumas das situações, como do jogador da Ovarense ou anteriormente do ciclista Bruno Neves e do avançado do Benfica Miki Fehér, tem aumentado a preocupação, principalmente a nível desportivo.

"Pode acontecer a outros jovens. Uma morte súbita pode acontecer durante o sono, por exemplo. Os atletas correm mais riscos, pois há determinadas situações provocadas por esforços físicos intensos. Há que saber se estão em condição para a prática desportiva a nível competitivo", salientou ao DN o cardiologista Vítor Gil.

Segundo o clínico, há duas causas principais para a morte súbita: na população em geral é o enfarte do miocárdio (aperto ou obstrução de uma ou mais artérias coronárias), e, nos atletas de alta competição, a miocardiopatia (paragem do miocárdio - ver infografia).

Vítor Gil refere ainda que as paragens cardíacas podem ser provocadas por razões tóxicas ou por medicamentos. "As drogas são um dos problemas, mas há medicamentos, como os diuréticos, que podem levar a baixas de potássio" que são potencialmente perigosas, explica.

O facto destes problemas não serem detectados - mesmo nos desportistas que fazem regularmente testes ao coração - não significa que os exames estejam a ser mal realizados. O cardiologista realça que "pode haver alterações flutuantes num electrocardiograma", isto é, o doente pode ter um problema, mas no momento em que faz o exame ele não se manifestar. Porém, "há situações não identificáveis e nem a autópsia a esclarece, como quando acontece uma perturbação eléctrica", reconhece.

O especialista diz que é" altamente improvável" um jovem sofrer uma morte súbita. Mas Vítor Gil pede cuidados aqueles que "tiverem palpitações, desmaios após um esforço físico ou um historial familiar de problemas cardíacos."

Quanto aos atletas, estes são alvo de "exames exaustivos", pelo que a possibilidade de sobre uma morte súbita é "ínfima", diz o cardiologista.

Joaquim Fonseca Esteves, director do Centro Nacional de Medicina Desportiva, alerta que "90 a 95% dos problemas são detectados" nos exames realizados. Portugal "tem o segundo melhor modelo de exames utilizado na Europa", diz. Mas Fonseca Esteves confessa receber denúncias que estes testes não são realizados por pessoas qualificadas. "Inclusive já se soube de casos em que eram os médicos de trabalho a fazerem os exames".

Os desfibilhadores tem sido apresentados como uma solução para as mortes súbitas nos recintos desportivos. Até porque o seu uso não é obrigatório. Mas os resultados do uso destas máquinas de reanimação têm sido estudados com resultados "decepcionantes" , diz Rui Ferreira. O coordenador explicou ao DN que se "está a criar uma grande expectativa" quanto à sua eficácia. E lembra um estudo norte-americano que revela que se 60% dos doentes são reanimados com o desfibrilhador apenas 20% sobrevive.

Rui Ferreira considera no entanto essencial que "seguranças e polícias", por exemplo, tenham prática na reanimação, sendo necessário "a divulgação e publicação do curso a não médicos". O coordenador diz que está a ser feito um levantamento dos sítios onde já ocorreram mortes súbitas. O ideal será colocar desfibrilhadores em "locais de muita afluência de pessoas com mais de 50 anos, durante períodos de tempo significativos, como os centros comerciais, aeroportos ou estações de comboios, entre outros".

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