Duas balas quase fatais para Karol
Era um dia de Maio, mês mágico em Roma. O sol brilhava, as flores perfumavam o ar. Às 17.20, na Praça de São Pedro, o Papa percorria, no seu carro descapotável, a "estrada pontifícia", beijando crianças, abraçando velhos e inválidos, com um sorriso irresistível.
Segue-se uma segunda volta. O público aclamava-o, cantava. E o Papa que veio do Leste, loiro, magro, elegante, humano, João Paulo II, deixa de repente de sorrir. Ouvem-se dois tiros de pistola. A sua expressão traduz dor, incerteza.
O Papa cai ferido. Vê-se medo, terror e desespero entre os numerosos fiéis que aclamam o sucessor de S. Pedro e Vigário de Cristo, e muitos gritos contra o gesto sacrílego de atentar contra a vida do Sumo Pontífice. João Paulo II fora gravemente atingido. Tudo acontecera em poucos segundos. E foram também poucos os testemunhos de quem ouviu e percebeu que o sucessor de Cristo tinha sido atingido.
O secretário pessoal do Papa, Stanislao Dziwisz, os agentes de segurança, os guardas suíços e o inspector da polícia Pasanisi formaram um muro para impedir novos tiros. Há muita revolta dos peregrinos quando o carro parte a alta velocidade, sem que muitos percebessem o que se passara. Mas no interior levava um ferido com a batina branca manchada de sangue.
Um peregrino e um agente da segurança do Estado do Vaticano conseguem paralisar o autor do atentado, o turco Ali Agja, líder dos Luppi Griggi.
Depois, são três horas e meia de espera na Clínica Gemelli, antes que fontes qualificadas informassem sobre o sucedido. O Papa fora operado de emergência, durante cinco horas. As primeiras informações do boletim médico relatam que as balas atingiram o intestino, provocando uma forte hemorragia que obrigou a transfusão de sangue. Este terá sido a primeira de várias complicações que levariam o Papa a ser operado várias vezes e obrigaria à sua transferência para o hospital policlínico.
Às 21.30 de 13 de Maio, inicia-se na Praça de São Pedro uma vigília de oração pelo Papa que dura toda a noite e dá origem a missas e preces em todo o mundo. E a 17 de Maio, do próprio hospital, Karol Wojtyla, numa mensagem transmitida pela rádio, perdoa ao autor do atentado, que anos mais tarde encontraria, num visita pastoral à prisão onde Ali Agja estava detido pela tentativa de homicídio.