Droga entre jovens é mais frequente nos que saem à noite. Haxixe à venda em Portugal é o mais barato da Europa
Portugal é o país da Europa onde a cannabis é mais barata. Cada grama de haxixe custa 2,3 euros e cada grama de erva 2,7 euros, quando a média dos restantes Estados varia dos cinco aos dez euros, e na Noruega ascende mesmo aos 12. De acordo com o relatório anual do Observatório Europeu da Droga e Toxicodependência (OEDT), ontem apresentado em Bruxelas, nunca custou tão pouco comprar substâncias ilícitas no espaço europeu.
Pela primeira vez, o OEDT fez uma análise dos preços a que a droga é vendida nas ruas para concluir que, em cinco anos (de 1999 a 2004), o custo médio tem caído a pique. Há casos em que a descida é para quase metade, como o ecstasy, hoje 47% mais barato, ou a heroína castanha (45%). Mas todas as substâncias se tornaram mais acessíveis aos bolsos dos consumidores ou possíveis consumidores: a cannabis custa menos 19%, a cocaína menos 22% e as anfetaminas menos 20%.
"No final dos anos 90, um comprimido de ecstasy custava 25 euros, hoje os mais baratos conseguem comprar-se por três euros", exemplifica Henry Bergeron, um dos peritos do observatório. O facto é encarado com preocupação, mas o organismo diz que ainda é cedo para avançar com conclusões definitivas para esta situação, quer em causas quer em consequências. Até porque se tra- ta de um mercado oculto e existem grandes variações de país para país. O assunto vai ser alvo de uma análise técnica mais aprofundada nos próximos meses. E são muitas as perguntas por esclarecer, nomeadamente quanto ao modelo a seguir neste combate. Se a via mais proibicionista dos EUA, se o modelo mais despenalizador da Europa.
Os factores que interferem no preço são diversos - flutuação da oferta, pureza ou quantidades transaccionadas. Mas a realidade tem contrariado aqui- lo que seria a lógica tradicional do mercado: o aumento das apreensões não influenciou os preços, nem a sua baixa se tem feito à custa da redução da pureza das substâncias.
O número de consumidores parece também não ser explicação para tudo. No caso da cannabis, por exemplo, Portugal tem os preços mais baixos mas regista consumos menores, comparado com os restantes Estados. O uso da substância entre os jovens adultos está abaixo dos 10%, quando países como a Espanha, França, República Checa ou Reino Unido ultrapassam os 25%. O facto de ser uma porta de entrada do tráfico é parte da explicação. Contudo, a Espanha também o é e tem valores de venda mais elevados.
O presidente do OEDT, Marcel Reimen, considera que "o preço é apenas um de muitos factores que influenciam as pessoas a consumir drogas". Contudo, "não podemos deixar de estar preocupados por estarem a ficar mais baratas. Se isto significar que as pessoas com tendência para consumir drogas as consumirão mais, o custo final poderá ser considerável".
Heroína pode voltar a subir
No conjunto de explicações possíveis está também o aumento da produção. A heroína é um caso exemplar. Apesar de, no relatório de há um ano, o OEDT ter registado sinais positivos em relação ao decréscimo do uso da heroína, este ano admite que "os novos dados põem parcialmente em causa esta avaliação positiva". Até porque a substância continua a circular em grandes quantidades, proveniente quase toda do Afeganistão. Estima-se que, em 2005, o país tenha sido responsável por 89% da produção mundial de ópio (4100 toneladas). O que leva os peritos a dizerem que "a oferta mundial poderá ser superior à procura". Ora, o elevado número de doses a circular no mercado preocupa o presidente do OEDT, que deixa o alerta: "Apesar de a heroína já não estar na moda, poderá acontecer que uma nova geração se torne vulnerável a este consumo e o seu uso volte a subir."
O DN viajou
a convite do
Observatório Europeu
da Droga
e Toxicodependência