Doze mil novos casos de cancro da pele por ano

Hoje é dia de rastreio em 42 serviços de dermatologia, a propósito do dia dos cancros da pele. Perto de 100 cancros já foram detetados desde 2010 no âmbito dos rastreios
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Irene estava a ver o programa de televisão A Tarde é Sua, na TVI, quando viu que um médico estava a alertar para os riscos de um sinal que era igual a um que o seu marido tinha nas costas. "Marquei logo consulta com o médico - o professor Maia Silva [dermatologista no hospital de Santa Maria e na CUF Descobertas] - e ele tirou-lhe logo o sinal para fazer biopsia. Uns oito dias depois ligou a dizer que era melanoma e que tinha de fazer uma limpeza maior na zona do sinal para mais para garantir que não havia mais cancro". A descoberta já foi junho de 2015 e desde então o marido, José Santos, de 67 anos, tem sido acompanhado de perto pelo dermatologista, sem mais problemas.

Menos sorte tem tido Laura Martins que, nos últimos dois anos, teve três cancros de pele. Este é o tipo de cancro mais comum, e por ano, estima-se que surjam 12 mil novos casos, dos quais 1000 serão melanoma. Os especialistas aconselham o autoexame e a observação feita por um médico, pelo menos uma vez por ano, para a população de risco.

Hoje, em todo o país, "42 serviços de dermatologia" disponibilizam o rastreio anual, por ocasião do dia do melanoma. Neste exame "será possível a observação de todo o corpo o que levar a um diagnóstico precoce do cancro de pele", alerta Osvaldo Correia, dermatologista e secretário-geral da Associação Portuguesa de Cancro Cutâneo (APCC), que organiza o rastreio.

Desde 2010, "10 mil pessoas passaram pelos rastreios e foram detetadas mais de 600 com lesões pré-cancro de pele, mais 350 carcinomas e 100 com suspeita clínica de melanoma", sintetiza o especialista. Este ano, o médico apela a quem trabalha ao ar livre que apareça nos rastreios. "Apelamos para que quem trabalha nas pescas, agricultura e construção civil que tenham cuidados especiais. Não é possível estar sempre a renovar o protetor solar e por isso aconselhamos a que usem camisolas que cubram o decote, os ombros e os braços, que usem chapéu. O que notamos é que as pessoas quando se expõem ao sol em lazer até têm cuidado, mas durante o trabalho não", explica. Devem também recorrer ao rastreio aqueles que usaram solários, os doentes transplantados, quem passa demasiado tempo ao sol por trabalho ou desporto.

A exposição ao sol foi um dos comportamentos que Laura Martins alterou depois da descoberta de três cancros. A psicóloga de 42 anos tinha alguns cuidados, mas agora segue à risca todas as recomendações e sempre que pode passa a mensagem a familiares e amigos. "Redobrei a minha atenção, falo com outras pessoas sobre os cuidados, a nível do meu comportamento faço autoexame de forma muito mais rigorosa. A doença obrigou-me a procurar mais informação e se algo muda vou imediatamente ao meu médico", acrescenta.

O primeiro problema aconteceu "há cerca de dois anos". "Tinha uma borbulha muito pequenina na ponta do nariz, que não desaparecia, e esteve assim várias semanas até que um um dia ao lavar a cara começou a fazer sangue e não cicatrizava. Fui ao dermatologista - o professor João Maia, no Hospital Santa Maria -, fiz uma biopsia e descobri que tinha um basalioma. Tive que fazer uma remoção na área para ter uma área de segurança, fiquei o nariz todo aberto." Laura considera que esta foi a intervenção mais dolorosa a que foi submetida.

No início do ano passado, um novo sinal - desta vez na coxa esquerda - fez soar o alarme. Laura não se lembrava que aquele sinal "fosse tão escuro" e foi ao médico. Mais uma vez tinha razões para estar preocupada: "Foi feita uma remoção cirúrgica e na biopsia confirmou-se que era melanoma, como era pequeno não tive que fazer tratamento posterior à remoção cirúrgica alargada, com a tal margem de segurança", explica. Antes, já tinha retirado outros sinais suspeitos. Nove meses depois, um novo basalioma apareceu, desta vez no couro cabeludo. "Era uma borbulhinha com crosta." Laura tem pele clara e acredita que talvez uma exposição solar menos cuidada durante a infância e adolescência possam explicar estes cancros.

No caso de José, não voltaram a aparecer novas ameaças. Já antes, Irene garante que, na praia, "cobria o sinal com bastante protetor". Depois de ter descoberto o problema do marido, começou a ser procurada no bairro para ver sinais. "Meu deus, quem sou eu, mas lá vou dizendo às pessoas para terem atenção e como comecei a ter mais atenção se vejo assim um sinal mais escuro digo logo para irem ver".

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