Dose excessiva é comum com troca de remédios

Bastonário da Ordem dos Médicos diz haver milhares de casos de sobredosagem devido a troca de remédios. No dia em que a ANF suspendeu a campanha em prol dos genéricos, Ana Jorge admite rever a lei da prescrição de remédios.
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"Todos os dias há médicos de família a referir casos de doentes que tomaram doses excessivas do mesmo medicamento só porque foi feita um troca nas farmácias", denuncia ao DN o bastonário da Ordem dos Médicos, Pedro Nunes. No mesmo dia em que a Associação Nacional das Farmácias (ANF) suspendeu a polémica campanha de substituição de remédios de marca por genéricos, Pedro Nunes avançou que "há milhares de casos por ano de tomas excessivas, que até acabam em morte, quer a troca seja ou não autorizada pelo médico", diz. É por isso que os clínicos "não recomendam a troca [do medicamento que receitam [em qualquer circunstância".

Este é um dos principais riscos para a saúde pública da substituição do medicamento receitado pelo médico, a que se junta a dificuldade de controlar os efeitos de medicamentos não sabendo "o que o doente está a tomar". Pedro Nunes dá um exemplo: uma pessoa pode estar a tomar um comprimido vermelho de uma caixa vermelha e passa a ter de tomar dois brancos de uma caixa verde. Muitos doentes acabam por tomar os dois ou tomar o dobro ou o triplo das doses". Se há situações em que a troca não tem reflexos, há outras com "risco lesivo para a saúde", diz.

O bastonário já tinha dito que a campanha lançada pela ANF no início do mês - em que a pedido dos doentes os farmacêuticos trocam os medicamentos de marca pelo seu genérico - é uma guerra económica que envolve o Governo, a indústria e e as farmácias. As farmácias, refere "apenas trocam os medicamentos pelos genéricos que mais lhes interessam", afirma.

Ontem, em conferência de imprensa, João Cordeiro, presidente da ANF, anunciou que a campanha de substituição ia ser suspensa. O dirigente abortou o programa depois de o Ministério da Saúde (MS) ter anunciado que não ia pagar às farmácias as comparticipações medicamentos que fossem substituíssem sem autorização do médico. Em causa está 80 por cento do mercado das farmácias.

A reacção da tutela - que admitiu no entanto rever a lei da prescrição para tornar mais fácil a sua aplicação - levou João Cordeiro a concluir que "o Ministério prefere pagar mais pelos medicamentos de marca mais caros do que pagar menos pelos medicamentos genéricos ".

Apesar de ter desistido da campanha, que "permitiria poupar 120 milhões de euros num ano", informou que os utentes das farmácias vão passar a ver as diferenças de valores do medicamento de marca comprado e do genérico no recibo. Ao mesmo tempo, vão lançar uma petição apelando ao direito de trocar estes remédios por genéricos.

Ana Jorge disse ontem no Parlamento que a suspensão da campanha da ANF é uma "prova de consenso". Ontem também admitiu à Lusa a mudança na lei da prescrição. "Isso poderá acontecer e terá de ser reflectido", disse.

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