Dos 'swaps' ao Banif: o legado de Vieira Monteiro no Santander Totta
Ao longo dos sete anos em que liderou o Santander Totta, António Vieira Monteiro entregou aos acionistas mais de dois mil milhões de euros de lucros e colocou o banco como líder do mercado português, em ativos e crédito. Mas os dois mandatos cumpridos pelo banqueiro, que a partir de janeiro deixa a presidência executiva do banco, não foram fáceis e envolveram algumas polémicas.
O caso dos swaps das empresas públicas de transportes e a compra do Banif a desconto foram dois casos em que o banco se viu alvo de críticas.
E, antes de passar a pasta ao sucessor Pedro Castro e Almeida, atual administrador do Totta, Vieira Monteiro deixa preparada a mudança de marca: o nome Totta cai ao fim de 125 anos de existência. Deixa também concluída a integração operacional e tecnológica do Banco Popular, comprado em 2017.
Mas, apesar de algumas polémicas, o Santander está mais forte após a liderança de Vieira Monteiro. O banco teve sempre lucros, mesmo durante a crise financeira do país, ao contrário dos concorrentes, e chegou à liderança do setor, em termos de ativos e crédito. Também cresceu na quota de mercado no segmento das pequenas e médias empresas. E ganhou quota nos recursos de clientes e no crédito.
Entre o início de 2012 e o final de setembro de 2018, a quota de mercado do Santander, em termos de recursos de clientes, passou de 10,1% para 14,2%. No stock de crédito hipotecário, a sua quota cresceu de 12,3% para 17,8%. No crédito a empresas, o aumento foi mais forte, com o banco a reforçar a sua quota em nove pontos percentuais, para 18,3%.
Vieira Monteiro assumiu a presidência executiva do Totta em 2012, em pleno resgate financeiro do país. Em 2013, estalou a polémica dos swaps, ou contratos de seguros de crédito. O banco foi acusado de ter feito contratos abusivos que acabariam por gerar prejuízos elevados para várias empresas públicas de transportes. O risco de prejuízo chegava a 1200 milhões de euros.
O governo e o banco chegaram a acordo em abril de 2017. O conflito durava desde 2013, quando a então ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, decidiu rasgar os contratos e as empresas deixaram de pagar ao banco. Só em juros, o Estado pagou mais de 500 milhões de euros. O acordo previu um empréstimo de 2,3 mil milhões de euros do banco ao Estado, para pagamento dos swaps.
Em meados de 2014, deu-se a queda do BES. A resolução do Banif ocorreu em dezembro de 2015, num processo que envolveu a compra de um pacote de ativos por parte do Santander Totta. A aquisição permitiu ao Santander Totta reforçar quota de mercado e chegar à liderança, nomeadamente nas regiões autónomas dos Açores e da Madeira. Mas o negócio teve críticas. Primeiro, porque o fim do banco custou aos contribuintes 2,4 mil milhões de euros. Depois, porque a venda ao Santander foi feita com um desconto de 75%. O Santander comprou o Banif por 150 milhões de euros ativos a atividade do Banif avaliada em 600 milhões de euros. O Santander registou nas suas contas anuais consolidadas o ativo adquirido com o valor de 283 milhões de euros.
A compra do Banco Popular, em meados de 2017, a digitalização do banco e a mudança de marca são também legados que Vieira Monteiro deixa na sua presidência do banco. Tal como a contínua redução do número de trabalhadores e de balcões. Só neste ano, saíram do Totta 200 funcionários e em 2018 o banco fecha ao todo cem agências.