Dormindo com o inimigo
Lê-se e percebe-se. O que Ana Lourenço queria dizer com a entrevista desta semana à Caras era: "Revolta-me um pouco as entranhas chamar notícia a esse tipo de coisas [as manchetes sobre a suposta relação com Ricardo Costa]. (…) Não tenho nada a esconder, mas a verdade é que ninguém tem nada a ver com a minha vida." Acontece que, tanto quanto ao público da Caras diz respeito, o que acabou por dizer foi: "Estou a viver uma fase completamente nova. (…) Hoje as coisas [o divórcio] estão arrumadas. (…) Quanto tudo começou, prometi à minha filha que iríamos ser felizes, e quero cumprir essa jura."
A Caras é o que é - e não ia deixar de sublinhar o que sublinha por tratar-se de Ana Lourenço. Mais: as publicações que irritaram Ana Lourenço também lêem a Caras - e, como podem citar a Caras, ao falar a esta sobre a sua vida pessoal, Ana Lourenço está a falar a todas elas sobre a sua vida pessoal, deixando de poder argumentar que ninguém tem nada a ver com isso. Como aparece ao longo da entrevista em pose de celebridade em dia de réveillon, com dois vestidos diferentes (e dois pares de sapatos e dois penteados), porém, é de supor que calculou os riscos. Trata-se de um jogo - e, contando que consiga suportar as suas consequências, tudo estará bem.
Não deixa de ser interessante, sobretudo, que se trate de mais uma pivot respeitada a abrir as portas da vida privada às revistas de sociedade. O paradigma mudou - e devemos habituar-nos a ele.