Doping: TAS pune ciclistas e valida passaporte biológico

A União Ciclista Internacional (UCI) e o sistema de luta contra o doping obtiveram uma vitória histórica ao verem o Tribunal Arbitral Desportivo (TAS) fazer jurisprudência ao aceitar o passaporte biológico como base para punir um corredor. Desta forma, o organismo máximo da justiça desportiva suspendeu por dois anos os ciclistas italianos Franco Pellizotti e Pietro Caucchioli.
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Foi a primeira vez que o TAS decidiu em função das evidências de uso de doping detectadas no passaporte biológico de um desportista, um procedimento científico que tem vindo a ser utilizado no programa antidopagem da UCI e da Agência Mundial Antidoping desde 2008. O TAS também rejeitou o apelo de outro ciclista italiano, Pietro Caucchioli, que em 2009 havia sido suspenso pela UCI por idêntico processo e que só faltava 'testar' pelos juízes da suprema instância internacional.

O programa do passaporte biológico foi desenvolvido de modo a provar o recurso a dopagem medindo os efeitos indirectos das substâncias dopantes no organismo, em vez de detectar essas mesmas substâncias nos fluidos dos atletas. A detecção directa é limitada pelo curto tempo em que as substâncias permanecem no corpo e pelo facto de várias técnicas de doping serem ainda indetectáveis desta forma, enquanto a detecção indirecta pelo passaporte biológico pode abranger períodos mais longos e métodos como a transfusões com o próprio sangue.

"A UCI [União Ciclista Internacional] está satisfeita com a qualidade do seu trabalho e pelo seu programa [antidopagem] ser reconhecido pelo TAS", declarou à agência France Press um porta-voz do organismo. "As duas decisões do TAS foram muito importantes, uma vez que foram as primeiras do género relacionada com um passaporte biológico examinado pelo TAS", frisa a UCI, para quem "este reconhecimento assume um grande significado sobre o futuro dos passaportes biológicos, quer no ciclismo, quer no desporto em geral".

Pellizotti e Caucchioli nunca tiveram resultados positivos nos testes tradicionais de despiste de substâncias dopantes, mas ambos apresentaram resultados irregulares nas amostras de sangue observadas sob os parâmetros do passaporte biológico.

Franco Pellizotti, que não poderá competir até maio de 2012, viu anulados todos os resultados obtidos desde 7 de maio de 2009, nomeadamente o seu terceiro lugar na Volta a Itália desse ano e o 'título' de melhor trepador na Volta à França, conquistado no mesmo ano. O corredor italiano terá ainda que pagar uma multa de 115 mil euros. Franco Pellizotti, de 33 anos, foi suspenso pela equipa Liquigas em maio de 2010, dias antes da partida para o 'Giro', depois de a UCI ter anunciado a detecção de anomalias no seu passaporte biológico.

O caso ficou a cargo do Comité Olímpico Italiano, que recomendou ao seu Tribunal Antidoping uma suspensão de dois anos, mas este absolveu o ciclista, que recorreu para o TAS com a intenção de exigir uma indemnização, por danos, à UCI, que o havia suspendido provisoriamente.

Por sua vez, Pietro Caucchioli, que foi um dos primeiros cinco corredores suspensos em Junho de 2009 devido a parâmetros anormais nos seus passaportes biológicos, viu o castigo de dois anos confirmado pelo TAS, ao qual havia também recorrido para ser ressarcido por danos profissionais em virtude da suspensão provisória que o afastou da estrada.

Actualmente, cerca de 850 ciclistas têm amostras e perfis sanguíneos monitorizados pelos cientistas da Agência Mundial Antidopagem, nos laboratórios de Lausana (Suíça). Uma parte dos seis milhões de euros que custa o programa na UCI é suportada pelas organizações velocipédicas, pelas equipas e até pelos corredores, que contribuem com parte dos seus prémios monetários. O trabalho da UCI foi entendido como um projecto piloto para as restantes federações desportivas, como por exemplo a IAAF (Associação Internacional das Federações de Atletismo), que seguiu o mesmo caminho, e a FIFA (Federação Internacional de Futebol) admite fazer o mesmo.

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