Doping: medalhas retiradas a Marion Jones serão entregues só a atletas “absolutamente limpos”

O presidente do Comité Olímpico Internacional (COI), Jacques Rogge, avisou hoje que a desclassificação de Marion Jones, por doping, não levará a um arranjo automático das classificações dos Jogos Olímpicos de Sydney 2000. As cinco medalhas ganhas pela velocista norte-americana serão entregues só a atletas “absolutamente limpos”.<br />
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“Não haverá uma reclassificação automática. Cada atleta potencialmente reclassificável será escrutinado tendo em conta o seu mérito. Queremos premiar atletas que sabemos estarem absolutamente limpos”, disse Rogge numa teleconferência de imprensa, adiantando que o COI examinará “cada caso individualmente na próxima reunião do comité executivo” (10 a 12 de Dezembro).

Rogge não explicou como o COI evitará os reajustes automáticos das classificações, mas o escrutínio dos potenciais reclassificados tem um alvo claro: Katerina Thanou. A “sprinter” grega foi segunda nos 100m de Sydney 2000 e depois deste evento escapou a vários controlos antidoping surpresa, ausentando-se dos locais de treino que indicara às autoridades desportivas.

Thanou foi ainda protagonista, em conjunto com o seu compatriota Kostas Kenteris e o seu treinador, Christos Tzekos, do maior escândalo dos Jogos Olímpicos de Atenas 2004 relacionado com violação das regras antidopagem. Thanou e Kenteris ausentaram-se da Aldeia Olímpica nas véspera do arranque da competição, evitando mais uma vez serem controlados, e terão simulado um acidente de viação para que não tivessem de comparecer perante os médicos do COI.

Na sequência deste caso, Thanou, Kenteris e Tzekos deverão ser julgados pela justiça grega, por “falsas declarações” às autoridades, inquérito que visa também as três alegadas testemunhas oculares do acidente e os médicos de um hospital de Atenas que terão falseado os relatórios clínicos dos velocistas. A nível desportivo, Thanou cumpriu dois anos de suspensão.

É precisamente o embaraço de entregar uma medalha de ouro a uma atleta conotada com doping que o COI quer evitar. O próprio presidente da Agência Mundial Antidopagem (AMA) admitiu ao “Telegraph” que “será difícil de engolir” um cenário em que o título dos 100m seja atribuído à grega.

Este rearranjo das classificações deve-se à confissão que Marion Jones há cerca de ummês, depois de vários anos a negar suspeitas e acusações e a ameaçar os críticos com processos por difamação. A norte-americana admitiu que usou um esteróide indetectável durante dois anos, inclusive no período de preparação para Sydney 2000, competição em que venceu os 100m, 200m e 4x400m, e foi terceira classificada nos 4x100m e no salto em comprimento.

A confissão e a devolução das medalhas foram concretizadas depois de Jones ter chegado a acordo com procuradores federais dos EUA, relativamente a duas acusações de falso testemunho a agentes federais: uma relativa à investigação à BALCO (Bay Area Laboratory Co-Operative), empresa que esteve no centro do maior escândalo de doping no atletismo norte-americano, e a outra sobre um inquérito a um esquema de fraude bancária e lavagem de dinheiro no qual esteve envolvido Tim Montgomery, ex-companheiro de Jones.

Aumento dos testes

Na teleconferência de imprensa, além de Jones e Thanou, Rogge também falou do futuro, ao anunciar que nos Jogos de Londres 2012 serão realizados cinco mil testes antidoping, mais 500 que os previstos para Pequim 2008.

“A tolerância zero é muito importante”, vincou o presidente do COI, criticando o facto de, até agora, apenas 70 países terem adoptado a convenção antidopagem da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Cultura e Educação), o documento que permite passar para as legislações nacionais os princípios do código mundial antidoping, seguido há vários anos pelas federações desportivas internacionais.

Notícia originalmente publicada no site Podium, do Publico.pt, e reproduzida com autorização do autor, Duarte Ladeiras, após parecer positivo da Sociedade Portuguesa de Autores.

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