Doping: documento confidencial não é lista de suspeitos
O diário desportivo francês publicou na semana passada uma lista que consta de um documento confidencial que serviu de base de trabalho para as brigadas da UCI responsáveis pelos testes no Tour 2010. Nesse documento, elaborado com base nos passaportes biológicos dos corredores e nas análises sanguíneas feitas antes da prova, os ciclistas inscritos estão agrupados consoante o risco que representavam ao nível da dopagem - de zero (sem qualquer anormalidade no perfil sanguíneo, ou seja, nada suspeito) até 10 (muito suspeito, com indícios "esmagadores" de dopagem), listagem que estava acompanhada de comentários de peritos.
A esmagadora maioria dos corredores foi classificada nos níveis que representavam baixo ou nulo risco, incluindo os portugueses Sérgio Paulinho, Rui Costa e Manuel Cardoso. No topo da lista figuram o ucraniano Yaroslav Popovych, o espanhol Carlos Barredo e o russo Denis Menchov, terceiro classificado da prova.
"Não é possível testar todos dez vezes"
"É essencial entender que isto não é uma lista que indica o grau de suspeita de doping, mas um documento de trabalho que estabelece uma ordem de prioridade para serem feitos os testes de dopagem", esclareceu McQuaid numa carta aberta publicada no site da UCI. Segundo o líder federativo, esta lista foi elaborada a partir de "diferentes elementos" por ser "útil a identificar prioridades quando se conduz um programa de testes" a mais de 200 ciclistas.
"Não é possível testar todos dez vezes, tem de ser estabelecida uma lista de prioridades baseada num número de indicações e não por coincidências ou livre arbítrio", explicou McQuaid, descrevendo os indicadores usados para elaborar a listagem: "os dados brutos do perfil hematológico no passaporte biológico (logo, sem ter em conta qualquer explicação para tais dados)", as vezes em que o ciclista foi controlado nos meses que antecederam o Tour 2010 e "considerações desportivas (resultados, ranking, programa de corridas, ambições, objectivos)".
"Ciclistas e equipas não podem estar indignados com conteúdo"
O presidente da UCI lembrou que o valor do passaporte biológico foi reconhecido muitas vezes, "pelas possibilidades extraordinárias que os controlos direccionados [com critério] oferecem em comparação com os testes tradicionais [aleatórios]". "Compreendo o desagrado dos ciclistas e do seu pessoal de apoio para com a fuga de informação, a qual também considero completamente inaceitável, mas francamente acho difícil partilhar a surpresa e a indignação deles em relação ao conteúdo do documento que tem também em conta os dados do passaporte biológico", vincou McQuaid, recordando que tanto os directores desportivos como os ciclistas estão bastante conscientes da forma como funciona este mecanismo antidoping e as suas potencialidades: os primeiros ajudaram a financiá-lo e os segundos são os "únicos indivíduos a poderem aceder, a qualquer momento, a todas os resultados de análises incluídos nos perfis individuais".
"Os ciclistas e as equipas não podem estar indignados pelo facto de o passaporte ser usado no máximo das suas possibilidades, tento em conta que os dados do passaporte usados na elaboração da lista de prioridades não são prova do que quer que seja (e é por isso que o documento é confidencial). O nosso objectivo nunca foi criar uma lista de suspeitos, mas sim dotar-nos da ferramenta mais eficaz possível para optimizar os nossos recursos, que não são ilimitados", argumentou McQuaid.
Investigação judicial à fuga de informação
Rejeitando "pedir desculpas pelo facto de a UCI continuar a tomar todas as medidas possíveis para proteger os atletas limpos" e lutar por "um ciclismo limpo de doping", o líder federativo garantiu que o organismo que dirige está a seguir todos os passos para que seja aberta uma investigação judicial à fuga de informação. E garantiu que a UCI vai dar "apoio total" ao inquérito independente lançado pela Agência Mundial Antidopagem (AMA), pois o documento confidencial foi entregue apenas aos membros das brigadas da UCI e aos observadores independentes enviados pela AMA ao Tour 2010.
McQuaid disse estar confiante de que em breve se vai descobrir os responsáveis pela fuga de informação, mas, para já, "os departamentos antidoping e jurídico da UCI estão a rever os procedimentos de segurança em relação à confidencialidade da informação para verificar se é possível e onde é possível melhorar".