Doping sanguíneo estava espalhado pela Europa

Esquemas especializados em prestar serviços de doping sanguíneo ao desporto profissional existiam em vários países da Europa e, ainda que não fosse discutido abertamente, o assunto era amplamente conhecido no ciclismo, revelou Rudy Pevenage, ex-conselheiro e director desportivo de Jan Ullrich, vencedor da Volta à França de 1997, ambos caídos em desgraça devido ao escândalo de dopagem do caso Puerto.
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“Nós não falávamos sobre isso, era... um segredo aberto. Também ouvi falar nisso”, disse Pevenage, ao jornal suíço “Neue Zuercher Zeitung”, citado pela DPA, explicando que o esquema gerido por Eufemiano Fuentes a partir de Espanha, que foi desmantelado na “Operação Puerto” e deu origem ao maior escândalo de doping na História do ciclismo., não era o único no continente.

“Quando fui excluído da Volta à França [2006], sabia que Fuentes em Espanha não era o único a ter montado uma rede. Havia redes semelhantes no Sul de Itália, existiam na Áustria. Metade dos chefes de equipas sabiam disso, mas não falavam sobre o assunto”, confessou Pevenage.

As declarações do ex-conselheiro e director desportivo do alemão Jan Ullrich seguem-se a outras de Bernhard Kohl, que perdeu o título de rei da montanha do Tour 2008, por doping com CERA, eritropoietina de acção prolongada. Kohl admitiu que conhecia há vários anos o banco de sangue em Viena que prestava serviços de dopagem sanguínea, esquema já desmontado pelas autoridades austríacas.

Ao contrário de Kohl e Pevenage, Ullrich, grande rival de Lance Armstrong nos sete anos em que o norte-americano venceu o Tour, nunca admitiu qualquer ligação a doping, apesar das várias investigações judiciais de que foi alvo. E Pevenage não quer falar do assunto: “Eram outros tempos. Prefiro o presente, Não se pode mudar o passado. Fazemos parte dele. Mas sei que os resultados dos melhores ciclistas seriam os mesmos. E que nunca é possível erradicar a batota. Nem no desporto nem na vida normall”, disse o belga, ex-ciclista que dirigiu várias equipas: Histor; La William; Telekom; Coast/Bianchi; T-Mobile.

Pevenage teve de fazer uma travessia do deserto, mas agora comanda a equipa norte-americana US Rock Racing, que conta nos seus quadros com ciclistas que foram estrelas, mas acabaram afastados das suas equipas ou das competições, também por dopagem: o norte-americano Tyler Hamilton, campeão olímpico do contra-relógio em 2004, que se dopou com uma transfusão de sangue de um dador compatível, e três espanhóis de renome que se viram envolvidos no caso Puerto: Oscar Sevilla, ex-colega de Ullrich, Francisco Mancebo e José Enrique Gutiérrez.

O director desportivo insiste que o facto de a equipa ter contratado estes corredores não a levará a envolver-se em dopagem: “A maioria dos nossos membros nunca teve nada a ver com doping e os outros sofreram tanto por causa dos seus casos que nunca quererão tocar outra vez em substâncias dopantes.”

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