Doping sanguíneo estava espalhado pela Europa
“Nós não falávamos sobre isso, era... um segredo aberto. Também ouvi falar nisso”, disse Pevenage, ao jornal suíço “Neue Zuercher Zeitung”, citado pela DPA, explicando que o esquema gerido por Eufemiano Fuentes a partir de Espanha, que foi desmantelado na “Operação Puerto” e deu origem ao maior escândalo de doping na História do ciclismo., não era o único no continente.
“Quando fui excluído da Volta à França [2006], sabia que Fuentes em Espanha não era o único a ter montado uma rede. Havia redes semelhantes no Sul de Itália, existiam na Áustria. Metade dos chefes de equipas sabiam disso, mas não falavam sobre o assunto”, confessou Pevenage.
As declarações do ex-conselheiro e director desportivo do alemão Jan Ullrich seguem-se a outras de Bernhard Kohl, que perdeu o título de rei da montanha do Tour 2008, por doping com CERA, eritropoietina de acção prolongada. Kohl admitiu que conhecia há vários anos o banco de sangue em Viena que prestava serviços de dopagem sanguínea, esquema já desmontado pelas autoridades austríacas.
Ao contrário de Kohl e Pevenage, Ullrich, grande rival de Lance Armstrong nos sete anos em que o norte-americano venceu o Tour, nunca admitiu qualquer ligação a doping, apesar das várias investigações judiciais de que foi alvo. E Pevenage não quer falar do assunto: “Eram outros tempos. Prefiro o presente, Não se pode mudar o passado. Fazemos parte dele. Mas sei que os resultados dos melhores ciclistas seriam os mesmos. E que nunca é possível erradicar a batota. Nem no desporto nem na vida normall”, disse o belga, ex-ciclista que dirigiu várias equipas: Histor; La William; Telekom; Coast/Bianchi; T-Mobile.
Pevenage teve de fazer uma travessia do deserto, mas agora comanda a equipa norte-americana US Rock Racing, que conta nos seus quadros com ciclistas que foram estrelas, mas acabaram afastados das suas equipas ou das competições, também por dopagem: o norte-americano Tyler Hamilton, campeão olímpico do contra-relógio em 2004, que se dopou com uma transfusão de sangue de um dador compatível, e três espanhóis de renome que se viram envolvidos no caso Puerto: Oscar Sevilla, ex-colega de Ullrich, Francisco Mancebo e José Enrique Gutiérrez.
O director desportivo insiste que o facto de a equipa ter contratado estes corredores não a levará a envolver-se em dopagem: “A maioria dos nossos membros nunca teve nada a ver com doping e os outros sofreram tanto por causa dos seus casos que nunca quererão tocar outra vez em substâncias dopantes.”