Doping acaba com carreira de campeão olímpico

Tyler Hamilton aceitou cumprir oito anos de suspensão devido ao segundo caso de doping na sua carreira. Na prática, aos 38 anos, esta pena impedirá o regresso ao ciclismo do campeão do contra-relógio dos Jogos Olímpicos de Atenas 2004, vitória que também gerou muita polémica, por suspeitas de dopagem.<br />
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Hamilton foi sujeito a um controlo fora de competição, a 9 de Fevereiro, altura em que preparava a sua participação na Volta à Califórnia, pela equipa Rock Racing. As análises detectaram DHEA (dehidroepiandrosterona), um esteróide anabolizante, e quando foi informado do resultado dos exames o corredor admitiu a falha e anunciou o abandono da modalidade. “Tomei uma substância proibida [num suplemento vitamínico]. Aceito as consequências. Comentem-se erros na vida e eu aceito a punição como um homem”, afirmou na altura o ciclista, explicando que desde 2003 que combate uma depressão, por problemas familiares, e que por isso irá concentrar-se em tratar a doença em vez de combater as acusações (contra a opinião dos seus conselheiros legais): “O ciclismo é apenas um desporto, pedalar a bicicleta do ponto A ao ponto B. O que estou a passar é muitíssimo maior.”
 
Ontem à noite foi divulgada a sentença: oito anos de suspensão, que, tendo em conta a idade do norte-americano, na prática equivalem a uma suspensão para o resto da vida, sanção habitualmente imposta a quem reincide em infracções graves das regras antidopagem.
 
“O senhor Hamilton concordou com os resultados laboratoriais e reconheceu que isto constitui a sua segunda infracção. Hamilton aceitou um período de inelegibilidade de oito anos, de acordo com o código da Agência Mundial Antidopagem, que começou a 17 de Maçro de 2009, data da suspensão provisória”, anunciou em comunicado a Agência Antidoping dos EUA (USADA).
 
“No desporto do ciclismo, oito anos de inelegibilidade para um atleta com 38 anos de idade é efectivamente uma suspensão vitalícia e uma garantia de que ele é penalizado pelo aqui que deve ser a lembrança da sua carreira competitiva”, vincou Travis T. Tygart, presidente da USADA.
 
Medalha de ouro manchada
 
O percurso de Hamilton figura entre as carreiras mais manchadas de sempre no ciclismo devido ao doping. O norte-americano, que chegou a competir na US Postal ao lado de Lance Armstrong (sete vezes vencedor da Volta à França), foi o primeiro atleta a registar um teste positivo por dopagem com transfusão com sangue de um dador compatível.
 
O controlo positivo ocorreu durante a Volta à Espanha de 2004 e Hamilton combateu a acusação até ao Tribunal Arbitral do Desporto (TAS): o painel de árbitros responsável pelo caso considerou, “num relatório muito detalhado, que o método de análise aplicado às amostras entregues por Hamilton na Vuelta é confiável”, que, “no dia 11 de Setembro de 2004, o seu sangue continha duas populações diferentes de glóbulos vermelhos e que essa evidência foi causada por dopagem sanguínea através de transfusão sanguínea”.
 
A mesma transfusão fora detectada numa amostra de sangue colhida a Hamilton durante os Jogos Olímpicos de 2004. Mas a medalha de ouro ficou nas mãos do norte-americano , porque um erro do laboratório de Atenas inviabilizou a contra-análise: a primeira análise foi declarada negativa, mas um grupo de peritos reexaminou os resultados e encontrou vestígios da transfusão, mas nessa altura já amostra B tinha sido congelada, devido à conclusão inicial das análises.
 
Em 2006, ainda antes de terminar a primeira sanção imposta a Hamilton (dois anos), o norte-americano viu-se de novo envolvido num caso de doping. Em Maio, na ‘Operação Puerto’, a Guarda Civil espanhola desmantelou o maior esquema de doping sanguíneo até agora detectado no desporto profissional europeu. Hamilton figurava entre as dezenas de clientes da rede, acusação desmentida pelo ciclista e que não originou qualquer processo disciplinar, porque, até agora, o juiz de instrução encarregue do caso tem proibido a justiça desportiva de usar as provas recolhidas no inquérito criminal.

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