Doping acaba com carreira de campeão olímpico
Hamilton foi sujeito a um controlo fora de competição, a 9 de Fevereiro, altura em que preparava a sua participação na Volta à Califórnia, pela equipa Rock Racing. As análises detectaram DHEA (dehidroepiandrosterona), um esteróide anabolizante, e quando foi informado do resultado dos exames o corredor admitiu a falha e anunciou o abandono da modalidade. “Tomei uma substância proibida [num suplemento vitamínico]. Aceito as consequências. Comentem-se erros na vida e eu aceito a punição como um homem”, afirmou na altura o ciclista, explicando que desde 2003 que combate uma depressão, por problemas familiares, e que por isso irá concentrar-se em tratar a doença em vez de combater as acusações (contra a opinião dos seus conselheiros legais): “O ciclismo é apenas um desporto, pedalar a bicicleta do ponto A ao ponto B. O que estou a passar é muitíssimo maior.”
Ontem à noite foi divulgada a sentença: oito anos de suspensão, que, tendo em conta a idade do norte-americano, na prática equivalem a uma suspensão para o resto da vida, sanção habitualmente imposta a quem reincide em infracções graves das regras antidopagem.
“O senhor Hamilton concordou com os resultados laboratoriais e reconheceu que isto constitui a sua segunda infracção. Hamilton aceitou um período de inelegibilidade de oito anos, de acordo com o código da Agência Mundial Antidopagem, que começou a 17 de Maçro de 2009, data da suspensão provisória”, anunciou em comunicado a Agência Antidoping dos EUA (USADA).
“No desporto do ciclismo, oito anos de inelegibilidade para um atleta com 38 anos de idade é efectivamente uma suspensão vitalícia e uma garantia de que ele é penalizado pelo aqui que deve ser a lembrança da sua carreira competitiva”, vincou Travis T. Tygart, presidente da USADA.
Medalha de ouro manchada
O percurso de Hamilton figura entre as carreiras mais manchadas de sempre no ciclismo devido ao doping. O norte-americano, que chegou a competir na US Postal ao lado de Lance Armstrong (sete vezes vencedor da Volta à França), foi o primeiro atleta a registar um teste positivo por dopagem com transfusão com sangue de um dador compatível.
O controlo positivo ocorreu durante a Volta à Espanha de 2004 e Hamilton combateu a acusação até ao Tribunal Arbitral do Desporto (TAS): o painel de árbitros responsável pelo caso considerou, “num relatório muito detalhado, que o método de análise aplicado às amostras entregues por Hamilton na Vuelta é confiável”, que, “no dia 11 de Setembro de 2004, o seu sangue continha duas populações diferentes de glóbulos vermelhos e que essa evidência foi causada por dopagem sanguínea através de transfusão sanguínea”.
A mesma transfusão fora detectada numa amostra de sangue colhida a Hamilton durante os Jogos Olímpicos de 2004. Mas a medalha de ouro ficou nas mãos do norte-americano , porque um erro do laboratório de Atenas inviabilizou a contra-análise: a primeira análise foi declarada negativa, mas um grupo de peritos reexaminou os resultados e encontrou vestígios da transfusão, mas nessa altura já amostra B tinha sido congelada, devido à conclusão inicial das análises.
Em 2006, ainda antes de terminar a primeira sanção imposta a Hamilton (dois anos), o norte-americano viu-se de novo envolvido num caso de doping. Em Maio, na ‘Operação Puerto’, a Guarda Civil espanhola desmantelou o maior esquema de doping sanguíneo até agora detectado no desporto profissional europeu. Hamilton figurava entre as dezenas de clientes da rede, acusação desmentida pelo ciclista e que não originou qualquer processo disciplinar, porque, até agora, o juiz de instrução encarregue do caso tem proibido a justiça desportiva de usar as provas recolhidas no inquérito criminal.