Dono de colégios apoiados foi da Comissão de Educação

António Calvete, ex-deputado na comissão parlamentar de Educação, e presidente do grupo que tem 13 escolas com apoios do Estado, conta como tudo começou. Grupo GPS nasceu por líder "não ter escola na terra".
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"Na minha terra, o Louriçal, não havia escola. O meu pai teve de me mandar para o Liceu Francisco Rodrigues Lobo, em Leiria, para estudar". Foi esta, explica ao DN o ex-deputado socialista na comissão de Educação e empresário António Calvete, a génese do grupo empresarial GPS, onde se integram 13 das 91 escolas privadas que têm contrato de associação com o Estado e que com os cortes do Ministério da Educação perderam cinco milhões de euros em apoios. E que de acordo com um estudo encomendado pela tutela arriscam perder 30 turmas a partir de Setembro.

Licenciado em Educação pela Universidade do Minho, em 1982-83, Calvete começou a carreira docente no Francisco Rodrigues Lobo. Daí, conta, passou "por várias actividades" ligadas ao ensino público, como "a formação de professores". Em 1987 lançou-se no privado fundando, na sua terra, o Instituto D. João V, um dos mais antigos do GPS.

Hoje, o universo do grupo agrega 25 escolas e institutos, incluindo 13 com contrato de associação com o Estado. Mas o presidente relativiza o seu peso: "A GPS foi um grupo de escolas que se decidiu juntar e tem uns 10 donos".

O mesmo discurso é aplicado às restantes actividades empresariais do grupo, que incluem companhias de seguros, agências de viagens e até um supermercado. Na sua maioria, defende, são "pequenas empresas, com dois ou três empregados", na área do Louriçal. "Às vezes, antigos alunos com uma ideia de negócio vêm ter comigo. E eu acabo por associar-me a eles", explica.

Sobre a carreira política - foi deputado socialista na última legislatura de António Guterres, em 2000 - diz ter nascido também "da devoção" à terra. "Fui presidente da junta de Freguesia do Louriçal e também provedor da Santa Casa da Misericórdia. Posso dizer que nunca recebi nada pelas funções".

Quanto à experiência de deputado, conta: "Era a terceira ou quarta opção [nas listas por Leiria], mas acabei por ficar num lugar elegível". Uma "experiência enriquecedora", em que integrou a Comissão de Educação, mas passada: "Já não sou militante".

O grupo GPS tem sido frequentemente visado pela Federação Nacional de professores, que recentemente denunciou à Autoridade para as Condições do Trabalho alegadas pressões "ilegais" para alterar as condições de trabalho de professores das suas escolas. O Ministério da Educação confirmou também ao DN estar a ser averiguada a queixa de um professor do Colégio de Quiaios.

Anteriormente, entre 2002 e 2005, confirmou também o ME, foram instaurados processos disciplinares por incumprimento de contrato a escolas do grupo "que concluíram ser necessário devolver cerca de três milhões de euros ao Estado".

Calvete garante que foram feitas recentemente inspecções a duas escolas "que não encontraram nenhuma irregularidade". Quanto aos processos mais antigos, diz que além de "anteriores à criação do grupo", já estão "resolvidos", "com uma decisão favorável do Tribunal Constitucional".

De acordo com o estudo de rede divulgado quarta-feira pelo Ministério da Educação, as 13 escolas GPS com contrato de associação - com mais de 380 turmas apoiadas e 7600 alunos - arriscam perder pelo menos 30 turmas em Setembro. Um número "preocupante" mas para o qual o empresário espera ainda "sensatez" do Ministério, que hoje se reúne com escolas.

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