Dois líderes em rota de colisão
Mariano Rajoy: O primeiro-ministro que na oposição quis referendar o estatuto
Presidente do Partido Popular (PP) desde 2 de outubro de 2004, já após ter perdido as eleições para José Luis Zapatero, Mariano Rajoy passou sete anos na oposição até chegar à chefia do governo espanhol, em 2011. Foi na oposição que tudo fez para travar o estatuto de autonomia da Catalunha, aprovado em 2006, incluindo recolher mais de quatro milhões de assinaturas para propor um referendo nacional sobre o tema. Quatro anos depois, a pedido do PP, o Tribunal Constitucional considerou 14 artigos inconstitucionais e desvalorizou a ideia de "Catalunha como nação". Um gesto que reacendeu o independentismo.
Rajoy nasceu em Santiago de Compostela, na Galiza, a 27 de março de 1955. Filho e neto de juristas, tirou Direito. Aos 24 anos teve um acidente de carro (como Puigdemont) e ficou com cicatrizes no rosto - daí usar barba. É casado desde 1996 com a também galega Elvira Fernández e tem dois filhos.
Militou na União Nacional Espanhola antes de aderir à Aliança Popular (atual PP), sendo eleito deputado nas primeiras eleições autonómicas galegas, em 1981. Desde então que ocupa cargos públicos, chegou a deputado nacional em 1986, subindo também dentro do PP, é membro do comité nacional desde 1989. Quando José Maria Aznar se tornou primeiro-ministro em 1996, entrou para o governo como ministro da Administração Pública. Seria ainda ministro da Educação e da Cultura, ministro do Interior e ministro da presidência, assumindo o cargo de número dois do governo a partir de 2000.
Já à frente do PP e após duas eleições perdidas, conquistou o melhor resultado de sempre do partido em 2011. Desde então enfrentou o desagrado cada vez maior dos catalães, negando-lhes em 2012 um novo pacto fiscal e conseguindo ilegalizar a consulta de 2014. Há dois anos, os independentistas conquistaram a maioria no Parlamento catalão, lançando as bases do processo que levou ao referendo de 1 de outubro. Recusando dialogar, Rajoy apoiou-se na justiça para o travar. As imagens da repressão policial agravaram a situação. A sondagem Gad3, para o ABC, diz que só 30,1% dos espanhóis fazem uma avaliação positiva do seu governo.
Carles Puigdemont: O independentista que preferia ir preso a desistir do referendo
Jornalista de profissão, político há pouco mais de uma década, o líder da Generalitat é independentista desde sempre e disse ao The New York Times estar preparados para se afastar da política e "recuperar alguma normalidade perdida" quando conseguir a independência. Carles Puigdemont é o inimigo número um do governo espanhol, reiterando estar aberto ao diálogo com Madrid mas sem recuar no processo independentista.
Puigdemont nasceu a 29 de dezembro de 1962 em Amer, sendo o segundo de oito filhos de um casal de pasteleiros. Aos 18 anos foi viver para Girona, ajudando a fundar o grupo local de juventude do partido Convergência Democrática da Catalunha (conservador e nacionalista). Aos 20 anos, sofreu um acidente de carro (como Rajoy), que lhe deixou uma cicatriz por cima do lábio. Já escrevia desde os 16 anos para o jornal Los Sitios, mas a carreira de jornalista só arrancou em Girona, quando entrou como revisor para o nacionalista Punt Diari , acabando como chefe de redação. Pelo meio deixou o curso de Filologia Catalã. Em 1999 fundou a Agência Catalã de Notícias (que presidiu até 2002) e dirigiu o jornal em inglês Catalonia Today. É casado com uma jornalista romena e tem duas filhas.
O salto para a política foi em 2006, sendo eleito deputado para o Parlamento da Catalunha pela coligação Convergência e União. Um ano depois faria a primeira tentativa de roubar aos socialistas a câmara de Girona, mas só conseguiria ser eleito em 2011 (apoiado pela Esquerda Republicana da Catalunha).
Em julho de 2015 assumiu a direção da Associação de Municípios pela Independência. Dois meses depois, nas autonómicas, era o terceiro na lista por Girona do Junts pel Sí. Mas viria a ser presidente da Generalitat, após a recusa da Candidatura de Unidade Popular em apoiar Artur Mas. Desde então, tem feito tudo para seguir o processo, mostrando-se disposto a negociar com Madrid o quando e o como se realizaria um referendo, mas nunca abdicando deste - disse estar preparado para ir para a prisão antes de desistir. Segundo uma sondagem Gad3 para o ABC, só 41,7% dos catalães considera adequada a atuação do seu governo.