Dois estados vão a votos num primeiro teste eleitoral no ano do adeus a Merkel

Eleições regionais este domingo em Bade-Vurtemberga e Renânia Palatinado em plena pandemia servem de ensaio à popularidade dos partidos antes das federais de setembro.
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É o primeiro teste num ano eleitoral que culminará a 26 de setembro, nas eleições federais que vão ditar quem irá suceder à chanceler Angela Merkel. Os estados de Bade-Vurtemberga e Renânia Palatinado vão este domingo a votos e, em plena pandemia de covid-19, onde pelo menos metade dos 11 milhões de eleitores destas regiões optaram pelo voto antecipado, as assembleias de voto estarão mais vazias do que o normal. Os resultados eleitorais servirão de termómetro aos vários partidos a nível nacional.

Em Bade-Vurtemberga será testada a força dos Verdes, que há dez anos lideram a região - com os conservadores da CDU de Merkel como sócios minoritários. O atual líder é Winfried Kretschmann, de 72 anos, muito popular - numa sondagem, 70% das pessoas disseram querer que continue no cargo, sendo que 35% dizem que vão votar Verdes e 25% na CDU.

O partido também tem vindo a subir nas sondagens a nível nacional desde as eleições de 2017, graças ao foco cada vez maior que é dado às alterações climáticas, sendo um dos cenários possíveis após as eleições de setembro uma coligação com a CDU.

Já na Renânia Palatinado, a dúvida é saber se o Partido Social-Democrata (SPD, na sigla alemã) conseguirá manter-se no poder, uma vez que como sócio minoritário da coligação de Merkel tem visto a sua popularidade baixar - surge nas sondagens nacionais com 15% das intenções de voto. Uma vitória pode ser moralizante para o partido co-liderado por Saskia Esken e Norbert Walter-Borjans.

Mas o desafio de conseguir um sétimo mandato à frente da Renânia Palatinado é grande. Há cinco anos, tudo apontava para a vitória da CDU, mas a popular Malu Dreyer, de 60 anos, - conhecida como a "rainha de copas"- conseguiu ser reeleita e fez governo com os Verdes e o Partido Democrático Liberal. Agora, as sondagens colocam-na novamente à frente dos conservadores, com pouco mais de 30% das intenções de voto, quando estes estão ligeiramente abaixo dessa marca.

No caso da própria CDU, que desde o início do ano é liderada por Armin Lascet, e dos seus aliados bávaros da CSU, de Markus Söder, a dúvida é saber qual será o impacto do escândalo da venda de máscaras. Os deputados Nicolas Löbel (CDU) e Georg Nüsslein (CSU) estão a ser investigados pelo Ministério Público por terem lucrado com a mediação ou recomendação ao governo da compra de máscaras de determinadas empresas. Löbel admitiu publicamente o erro e ter lucrado 250 mil euros com as vendas, tendo deixado a CDU e renunciado ao seu lugar no Parlamento alemão. Já Nüsslein, apesar de se ter afastado do partido, revelou querer manter o assento no Bundestag como independente.

"Questões a nível nacional também importam nestas eleições regionais. Este escândalo feriu seriamente a reputação da CDU. A isso junta-se o lento início da campanha de vacinação, assim como as falhas na testagem, que prejudicam o partido, uma vez que o ministro da Saúde, Jens Spahn, é da CDU", disse à Lusa o cofundador e diretor do Global Public Policy Institute. Um mau resultado dos conservadores poderá transformar-se numa bola de neve que culmine com uma derrota em setembro.

Já as perspetivas do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD, em alemão) são "incertas", segundo o mesmo especialista, já que estes não têm sido capazes de "capitalizar tanto as fraquezas do governo, uma vez que têm as suas próprias fraquezas internas", dando o exemplo dos negacionistas e céticos da vacinação que integram esta formação.

As eleições em Bade-Vurtemberga e na Renânia Palatinado são o primeiro teste num ano eleitoral onde também serão escolhidos outros quatro líderes regionais. Na Turíngia, as eleições estavam inicialmente previstas para abril, mas por acordo mútuo foram adiadas para 26 de setembro, a mesma data das federais nas quais Merkel não partipa. Nessa mesma altura, decorrem as eleições no estado de Berlim e no de Meclemburgo-Pomerânia Ocidental. O próximo teste será então na Saxónia-Anhalt, onde o escrutínio será a 6 de junho.

A pandemia afetou a campanha eleitoral, que teve que ser feita à distância, pode ter impacto a nível da participação e também na hora de votar. Só 40% dos alemães estão satisfeitos com a resposta à covid-19 e, na Alemanha, essa resposta é antes de tudo de cada estado, pelo que se podem voltar contra os respetivos líderes.

Os números da pandemia estão a subir, já se falando de uma "terceira onda", com as autoridades de saúde a alertar para o risco de continuar a aliviar as medidas de confinamento diante da ameaça de voltar a ter, em meados de abril, os números que obrigaram a fechar tudo antes do Natal. Este sábado, houve mais 12 674 casos de covid-19 (com o alerta de que pode chegar aos 30 mil na semana de 12 de abril) e 239 mortes.

susana.f.salvador@dn.pt

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