Dois encores na estreia da Orquestra Gulbenkian na sala São Paulo
Ovação de pé e dois encores. A estreia da Orquestra Gulbenkian na Sala São Paulo, na segunda-feira à noite, foi assim. Lawrence Foster é o maestro convidado para esta digressão brasileira, o violoncelista brasileiro António Meneses é o solista.
Foi a peça "Deux Portraits Imaginaires", do maestro e compositor português Pedro Amaral, que abriu o concerto, pouco depois das 21.00, numa sala de quase 1500 lugares, cheia. O músico, que assistiu ao concerto na plateia subiu ao palco, foi abordado no intervalo por um grupo de jovens que lhe pediam autógrafos.
António Meneses e a orquestra interpretaram o concerto para violoncelo e orquestra, em ré menor, de Édouard Lalo. "Esse concerto já foi bem mais conhecido, bem mais tocado do que hoje em dia, mas sempre gostei muito dele e sempre tive vontade de tocar. Fazia anos que não tocava, deixou de ser tão popular. Foi um pedido meu, inclusive", explicou o músico, em conversa com o DN antes de subir ao palco desta antiga estação de comboios de carga, convertida em sala de espetáculos em 1999 e agora casa da Orquestra do Estado de São Paulo (OSESP).
O músico brasileiro, natural de Recife e a viver na Suíça, já tinha estado no Brasil com orquestras estrangeiras, e conhece bem a Gulbenkian. "Já toquei muitas vezes com eles, na sala [auditório da Gulbenkian] e fiquei muito contente quando o convite apareceu e ter essa oportunidade de tocar. Tem pessoal aí que conheço tem 20 anos", contou ao DN. Como se chega a um entendimento com esse coletivo? "É chegar, trabalhar, ensaiar, chegar a um denominador comum, não posso vir com uma ideia fixa. É uma colaboração permanente, tanto com a orquestra como com o regente [maestro]. Isso é que faz a coisa interessante", considera Meneses. O público da sala aplaudiu e o violoncelista voltou ao palco para tocar mais uma vez.
Foi, de resto, uma noite de longos aplausos e encores. "Algo rápido ou algo suave?", perguntou do seu lugar o maestro norte-americano no regresso, anunciando de seguida "Rosamunde", de Schubert.
Os múscos ainda voltaram ao palco mais uma vez para interpretar "Stacatto Brilhante", de Joly Braga Santos. "A filha do compositor está entre nós", fez questão de dizer Lawrence Foster ao público.
Leonor Braga Santos, 55 anos de vida e 27 na orquestra, lembra ao DN que esta composição se tornou parte do repertório da Gulbenkian em aberturas e encore. Foi a mesma com que brindaram o público no Auditório do Parque Ibirapuera, no primeiro concerto em São Paulo, no domingo de manhã.
"Foi escrita a pedido do maestro Álvaro Cassuto para a estreia da Nova Filarmonia Portuguesa", contextualiza. "Foi uma das últimas coisas que o meu pai escreveu", conta Leonor ao DN. A orquestra apresentou-se pela primeira vez no Palácio Nacional de Queluz em 1988, o mesmo ano de desaparecimento do compositor e maestro português e também o ano em que a filha entrou na Gulbenkian para tocar viola de arco.
Lembra-se de ouvir dizerem ao pai que podia ter escrito mais. O compositor respondia: "Não houve tempo". Mas ser curta e festiva tem jogado a seu favor. "Stacatto Brilhante", com menos de 2 minutos e meio, já foi tocada na China e na Alemanha, onde Lawrence Foster também apresentou a violetista como filha do compositor.
O espetáculo de segunda-feira, em que também se ouviu a Sinfonia n.º8 de, em Sol Maior, de Antonin Dvorak, foi o primeiro da Orquestra Gulbenkian na Sala São Paulo, no âmbito da digressão a convite da Sociedade de Cultura Artística de São Paulo. Ontem à noite, os cerca de 70 músicos que viajaram de Lisboa para o Brasil, voltaram a subir ao palco. Nas partituras, estavam a Sinfonia n.º8 de Schubert e a sinfonia n.º 3 de Mendelssohn. António Meneses e os músicos interpretam o concerto para violoncelo e orquestra n.º1 de Dimitri Chostakovich.
As duas apresentações encerram a temporada de programação da centenária Cultura Artística, mas a digressão segue para o Rio de Janeiro. A orquestra Gulbenkian apresenta-se na quarta-feira, às 20.00, no Theatro Municipal. No repertório estão Schubert, Lalo e Dvorak.
Em São Paulo. A jornalista viajou a convite da Fundação Calouste Gulbenkian.