Dois complexos e fascinantes Mundos em crise

Como as plantas não se deslocam, não conseguem enlaçar-se para ter sexo, como é apanágio da maioria dos animais. Dada esta sua restrição, foi a reprodução das plantas com flor conseguida por uma íntima parceria com as abelhas, que passaram a ter um papel primordial nos seus amores, a troco de néctar e pólen.
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Assim começa o magnífico filme em registo documental "More than Honey", do realizador Markus Imhoof, ainda em exibição em Lisboa ("Abelhas e Homens").

Esta tecnicamente sofisticada e bem conseguida análise do enigmático desaparecimento das abelhas contemporâneas, que nos transporta desde a Europa até à China e Austrália, é uma clara denúncia de que o homem hodierno, através do seu modelo de mercado neoliberal, é o verdadeiro verdugo da agonia das abelhas, ao intoxicá-las com pesticidas, difundir-lhe doenças e parasitas e roubar-lhes robustez genética.

Recorde-se que dos insectos muito depende o correto funcionamento dos ecossistemas terrestres e a nossa sobrevivência, como foi prognosticado por Einstein especificamente com as abelhas.

O caso da China é paradigmático: ao erradicar os pardais por eventuais prejuízos, o homem despoletou ali "outbreaks" de inúmeras pragas de insetos, pelo que a solução encontrada foi nova utilização maciça de inseticidas que acabou por exterminar também as abelhas.

Como resultado final, viram-se os agricultores chineses obrigados à polinização manual dos seus pomares, para que não ficassem estéreis.

E a que preço não ficará uma simples maçã, quando os seus salários forem mais justos?

Enfim, um filme para saborear (das fascinantes imagens dentro das colmeias às paisagens alpinas e australianas, entre outras) e meditar sobre o nosso insensato comportamento neoliberal.

E que nos abre janelas sobre esse ainda desconhecido microcosmos chamado colmeia, mas que tão fielmente parece reproduzir o nosso igualmente complexo e fascinante mundo em crise.

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