DOIS ANOS DEPOIS, O PAPA SAI DA EUROPA
Oficialmente, o Papa Bento XVI vai ao Brasil, de 9 a 13 de Maio, para presidir à V Conferência de Bispos da América Latina e Caraíbas. No entanto, não se fala noutra coisa senão na guerra santa. O Brasil é o maior país católico do mundo, mas está a perder adeptos para as igrejas evangélicas de forma rápida e clara.
João Paulo II, que era venerado no Brasil, fez várias visitas ao país, todas com êxito, e Bento XVI parece querer manter essa chama acesa. Para isso, vai formalizar a santificação de Frei Galvão, o primeiro santo nascido no Brasil, o que deverá ter um forte efeito junto da opinião pública.
Dados oficiais indicam que, em 1900, 99% da população brasileira era constituída por católicos. Hoje, os brasileiros são quase 200 milhões e a margem de católicos ainda é bastante alta: nada menos de 73,6% da população, segundo dados de 2000. Mas entre 1990 e 2000 os evangélicos passaram de 9% para 15,4%.
Um estudo feito pelo especialista Cesar Jacob revela que os católicos são a maioria entre os pobres, mas os evangélicos ganham espaço sobretudo entre pessoas abaixo do limiar da pobreza. Já os protestantes tradicionais - como baptistas e luteranos - crescem de forma moderada. A guerra trava-se entre os chamados evangélicos pentecostais, como a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) do bispo Edir Macedo, e a Igreja Renascer. Com agressividade, os pentecostais tiram ovelhas do rebanho católico.
A crítica deve-se ao facto de usarem excessivamente os meios de comunicação. A IURD possui a Record, a segunda maior rede de televisão. Da meia-noite às 06.00, a TV Record só transmite mensagens evangélicas e, além disso, a IURD aluga espaço nas redes Band, CNT e Rede TV. De madrugada, constata-se uma invasão de programas evangélicos em rádios, sejam elas nacionais ou locais. Diante disso, a Igreja Católica esboçou uma reacção e o padre-cantor Marcelo Rossi tem um programa diário nas manhãs da Rádio Globo nas três maiores cidades: São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro.
Na política, os evangélicos agem com eficácia. Entre os 513 deputados federais e 81 senadores, estima-se que 10% sejam evangélicos. Dos três senadores do Rio de Janeiro, um deles, Marcelo Crivela, é parente do bispo Edir Macedo.
Durante a visita ao Brasil, o Papa terá encontros com representantes muçulmanos, judeus e de algumas correntes protestantes - como presbiterianos e luteranos. Os evangélicos não se encontrarão com o Papa.
Temas indigestos
O Presidente brasileiro, Lula da Silva, já avisou que quer discutir a fome com o Papa. Por seu lado, Bento XVI parece interessado em evitar que o Brasil realize um referendo sobre o aborto. O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, de 56 anos - que nasceu em Portugal e chegou ao Brasil com um ano -, foi vaiado após dizer que se deveria discutir o aborto. Lula mandou deixar cair o tema, apesar de anualmente serem feitas 1,2 milhões de cirurgias abortivas ilegais, sem condições de higiene.
Outros temas indigestos são o celibato dos padres e a admissão de homossexuais na Igreja. Curiosamente, no recenseamento que agora se inicia no Brasil, haverá pela primeira vez oportunidade para indicar as casas em que vivem os casais homossexuais. |