Dois anos de comentários abruptos na blogosfera

Publicado a
Atualizado a

Entre o "Espanto" e a "Vergonha" de Sá de Miranda, surgiu há dois anos um blogue que "não é político" e que "não tem agenda".

José Pacheco Pereira, então eurodeputado, eleito pelo PSD, inaugurou o Abrupto (http//abrupto.blogspot.com) a 5 de Maio de 2003 com um post sobre o conteúdo de um jornal televisivo. O objectivo era "o mesmo de hoje", disse ao DN. É um espaço para divulgar "o que entendo dizer, mostrar ou ler, num blogue sem agenda própria". No fundo, "é o jornal de liceu que sempre quis fazer e que na altura não pude, porque era muito caro, mas agora posso fazê-lo", usando o alcance da blogosfera.

Desde cedo que o Abrupto deu nas vistas, sendo sempre assumido pelo seu autor. Para os cépticos do início, Pacheco Pereira desfez as dúvidas ao lançar no seu blogue excertos de um texto que viria a publicar no jornal Público.

Dois anos depois, José Pacheco Pereira descreve o "Estado do Abrupto", referindo que publicou "cerca de 2300 notas", tendo sido consultado, pelo menos, por "milhão e meio de visitantes", que ouvem parte da sua voz, "feita do ruído do mundo, do meu ruído, da fala incessante, dos quadros, dos versos, da música, das palavras, que nos faz o que somos. O Abrupto é sobre isso, o Abrupto é isso".

Uma das características do blogue é a participação dos leitores. Pacheco Pereira explica que "há muitos" que mostram interesse em participar e que enviam conteúdos ao autor, que depois decide, ou não, a sua publicação. Para que tal aconteça é necessário que tenham "interesses próximos" e que as contribuições sejam substantivas". Excluídas à partida estão as cartas pessoais e os comentários. "Não vejo qualquer interesse nos comentários anónimos. Se alguém tiver algo interessante a dizer, escreve-me, que depois publico", refere Pacheco Pereira.

O facto do autor ser uma figura conhecida na sociedade portuguesa ajudou à popularidade do Abrupto, mas o blogue tem "uma política editorial virada para a atmosfera e não para a blogosfera". O autor sublinha que este "é talvez o único blogue português que tem público fora da blogosfera, um público que não é o protótipo de pessoas da Net", sublinha. "Já encontrei pessoas de todo o tipo que me vieram dizer que lêem o meu blogue".

Pacheco Pereira afirma-se também um leitor "de muitos outros blogues, desde os diários pessoais aos políticos", incluindo os que mantém um 'conflito' virtual com o Abrupto, que "felizmente é atacado à esquerda e à direita", diz. A actualização é mais um campo "sem regras. Depende se estou em viagem ou não, mas costumo actualizar o blogue de manhã" e a escolha de conteúdos evita os mais óbvios. "Quando o Papa morreu, muitos falaram sobre isso, mas no Abrupto não escrevi nada sobre o Papa", refere.

No texto de comemoração dos dois anos, o Abrupto adianta que tem ainda "7800 mensagens por responder ou ter seguimento". O seu peso poderá ser definido pelo critério da citação, refere o antigo eurodeputado, "porque o Abrupto deve ser o único blogue português que conheceu uma campanha activa contra a colocação de ligações", no que pode ser visto como uma "infantil forma de censura, por puras razões políticas, à esquerda e à direita". O que não o impede de fazer "parte da lista do Top 100 da Technorati, que acompanha cerca de 9 500 000 blogues. É o equivalente a vir na lista dos 500 da Forbes, só que em muitíssimo mais pobre".

Ao fim de dois anos de presença contínua na blogosfera, virada para a atmosfera, Pacheco Pereira procedeu a pequenas alterações gráficas, mas garante que tanto "a linha editorial como o aspecto gráfico são para manter. Pode-se dizer que é um blogue conservador", conclui.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt