Doentes imunocomprometidos querem mais proteção

Novas terapias tardam em ser disponibilizadas.
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As vacinas continuam a ser a melhor prevenção para Covid-19, mas para os imunocomprometidos, os pacientes com sistema imunológico debilitado e mais suscetível de contrair infeções, não são suficientes. No mercado existem terapêuticas diferenciadoras para proteção dos mais vulneráveis, mas o acesso ainda é extremamente condicionado.

É a falta de acesso aos anticorpos monoclonais, as substâncias que podem ser injetadas nos doentes imunocomprometidos para substituírem as defesas que os próprios deveriam ser capazes de produzir, que motiva descontentamento de pacientes e profissionais de saúde. Os lamentos e argumentos em defesa das novas terapias foram apresentados numa iniciativa DN e TSF que juntou o pneumologista Filipe Froes, em representação da Ordem dos Médicos, a nefrologista Cristina Jorge, presidente da Sociedade Portuguesa de Transplantação e o hematologista José Carda da Sociedade Portuguesa de Hematologia.

Ficou claro da Mesa Redonda em que participaram e nas declarações ao DN que a vacina contra a Covid 19, apesar de pouco eficiente para estas situações em que o sistema imunitário dos imunocomprometidos não desenvolve os anticorpos que a vacina produz num sistema competente continua a ser essencial. Ou seja, a vacina tem uma eficácia muito reduzida na população imunocomprometida expondo-a muito mais às infeções.

Entre os mais vulneráveis estão os doentes transplantados porque ao receberem um órgão estranho, o sistema imunológico tem de lutar para que o corpo não o rejeite. Para que isso aconteça, afirmou Cristina Jorge da Sociedade Portuguesa de Transplantação (SPT), são necessários medicamentos imunossupressores. "Os transplantados fazem essa terapia de forma a manterem os órgãos a funcionar, o problema é que esses medicamentos diminuem a atividade do sistema imunológico e predispõem estes doentes a várias complicações, como infeções, tumores, etc". Esta é a justificação, em nome da saúde e bem-estar dos doentes, para a SPT pedir o rápido e generalizado acesso às novas terapias.

Com argumentação idêntica, José Carda da Sociedade Portuguesa de Hematologia, deu o exemplo dos doentes oncológicos para quem a pandemia continua a ter impacto muito negativo e a vacinação é insuficiente. "Mesmo sendo pouco eficaz, é indispensável e após cada dose de reforço está a notar-se uma efetiva seroconversão. O que é que isto significa? À medida que vamos fazendo doses de reforço e adicionais, a percentagem de doentes que efetivamente está protegida vai aumentando". Ainda assim, o hematologista afirmou que não se atingem as altas taxas de proteção da população em geral.

Filipe Froes considerou que não podem ser os critérios financeiros a determinar o acesso à inovação até por uma questão de sustentabilidade da resposta do próprio Serviço Nacional de Saúde. "Se evitarmos internamentos hospitalares estamos necessariamente a prevenir toda a atividade, e dispêndio em termos de recursos humanos e técnicos associados ao internamento hospitalar. Portanto, o investimento do ponto de vista exclusivamente económico é extremamente rentável. Isto tem um significado muito grande na alocação de recursos, em termos de qualidade de vida e em termos de rentabilização de tudo o que já foi feito antes nestes doentes".

Questionado sobre o porquê dos anticorpos monoclonais não integrarem ainda o SNS, Froes remete a resposta para o Infarmed, o Instituto Nacional da Farmácia e do Medicamento, mas acrescentou em tom critico que "nem sempre os nossos caminhos regulamentares são idênticos aos de outros países". De qualquer modo acredita que estará para muito breve a disponibilização da novidade terapêutica.

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