Do produtor ao consumidor: carne de vitela criada a bolota no Alentejo

Solar da Giesteira, em Montemor-o-Novo, quer contribuir para a qualidade dos produtos da região, e ter aí espaço próprio
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A carrinha avança a dez à hora, talvez menos, até. Muito devagar, percorre o terreno inclinado, coberto de erva nova e de um manto de flores amarelas e brancas - a primavera a despontar em cores e aromas novos -, contorna os sobreiros e as azinheiras no caminho e vai-se aproximando da manada, impercetivelmente. Ou quase, porque as vacas, em diferentes tons de castanho, do café com leite ao ocre, já estão a olhar, muito quietas, numa expectativa atenta.

"Se saísse agora do carro, juntavam-se todas e saíam por aí fora a correr, monte abaixo", diz Joaquim Freixo, proprietário e gestor da herdade Solar da Giesteira, que conhece bem o modo de ser da manada. Naquela herdade de 240 hectares há em permanência cerca de uma centena de animais que são criados inteiramente ao ar livre, ao longo de todo o ano, e que "se alimentam exclusivamente de bolota e da vegetação, que é fresca a partir da primavera e seca nos restantes meses do ano", como explica Joaquim Freixo. Estes são animais para a produção de carne, e a sua alimentação natural, e o sabor que isso confere à sua carne são a imagem da marca Solar da Giesteira, na região de Montemor-o-Novo, que já a partir deste mês começa a fornecer todo o país.

"Não usamos antibióticos, nem hormonas, ou conservantes", garante Joaquim Freixo que iniciou este projeto de produção de carne, com distribuição direta ao consumidor, em 1998.

Primeiro, o Solar da Giesteira vendia apenas na região, 150 quilómetros em torno de Montemor-o-Novo. Depois, progressivamente, foi alargando o raio de ação a outras zonas no Alentejo, e em seguida à região da grande Lisboa, a Coimbra e também ao Porto. "Este mês damos o salto e passamos a distribuir em todo o país", conta, satisfeito, o empresário alentejano.

A marca do Alentejo

Foram quase duas décadas para chegar aqui, mas para Joaquim Freixo esse foi "o tempo certo", o tempo necessário para construir um "caminho sólido", que se traduz hoje na concretização de grande uma ambição de base: a de produzir "uma carne tenra, de grande sabor e completamente natural", que é também "uma marca de qualidade do Alentejo", sublinha o empresário. Essa, afinal, é uma das ideias--chave desde o início.

"Este ecossistema do montado é único no mundo e tem tudo o que é necessário para este tipo de produção de carne", explica Joaquim Freixo, sublinhando que "o ciclo anual deste tipo de floresta" acaba por ser o garante "do equilíbrio na alimentação" dos animais que são ali criados ao ar livre.

Depois de desmamadas, a partir dos seis meses de idade, as vitelas passam a alimentar-se da bolota que o montado produz, e que está disponível durante metade do ano, de outubro a fevereiro.

"A bolota garante aos animais a proteína e a energia necessárias, e transmite à carne o sabor único que este pasto, também único no mundo, proporciona, e por isso esta carne é única", afirma Joaquim Freixo.

Quando a bolota começa a escassear, a partir de março, irrompe a vegetação nova com a primavera. Como complemento, sobretudo no inverno, os animais comem também feno, que é uma parte da erva nascida no ano anterior, que foi recolhida e seca exatamente com este propósito.

Na herdade Solar da Giesteira, cada hectare de montado produz anualmente cerca 600 quilos de bolota, o que significa que cada animal tem à disposição, ao longo de um ano, ou metade dele, 1200 quilos de bolota. A gestão está calculada para que a dimensão da manada não exceda, em média, uma vaca por cada dois hectares. "Esse é o ponto de equilíbrio e é preciso mantê-lo para que tudo role", resume o empresário.

Os animais, uma mistura de cruzamentos entre a vaca alentejana, a vaca salers, a raça charolês e a limousine, que foi estudada propositadamente para este fim pelos proprietários do Solar da Giesteira - Joaquim Freixo e dois primos, uma vez que a propriedade é uma herança de família -, vão para abate entre os oito e os 10 meses de idade. "Nessa fase, a carne ainda é tenra, mas já ganhou sabor", garante Joaquim Freixo.

A distribuição, que é feita diretamente do produtor ao consumidor, é outra das marcas do produto. "O abate e desmanche é feito à quarta-feira, é tudo embalado a vácuo e à sexta e segunda-feira entregamos em casa do consumidor", explica o empresário. Uma encomenda acima de 20 euros, que equivale, por exemplo, a dois quilos de bifes, "não paga transporte".

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