Do mestre Peterhansel ao aprendiz Loeb, as razões para seguir o Dakar

A 39.ª edição da prova arranca amanhã e será uma das mais exigentes de sempre, com o Paraguai a estrear-se e a dar o pontapé de saída - a chegada é em Buenos Aires. Portugal estará representado nas motos com 11 pilotos
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É conhecida por ser a competição de ralis mais exigente do mundo, mas a edição deste ano vai propor-se a elevar os seus próprios limites. A 39.ª edição do Rali Dakar arranca amanhã, com partida inédita no Paraguai, que oferece um invulgar clima tropical ao circuito e duras passagens pela altitude boliviana e o deserto argentino.

Pelo nono ano consecutivo, o Rali Dakar vai disputar-se na América do Sul, com largada amanhã e termo a 14 de janeiro, em Buenos Aires. Para trás ficarão 12 etapas e cerca de nove mil quilómetros, num circuito que Marc Coma, diretor desportivo do Dakar, considera o mais difícil de sempre.

"Vamos levar o Dakar para outra dimensão. Será o Dakar mais difícil, muito diferente dos outros. Temos um novo país, a parte noroeste da Argentina em que ainda não havíamos corrido, e uma parte da Bolívia que não foi explorada até agora, muito diferente da que conhecemos", descreveu na apresentação do rali.

Metade das etapas vão ser disputadas numa altitude acima dos três mil metros, sendo que na Bolívia os pilotos vão chegar a correr acima dos quatro mil. A cidade de La Paz, meta da sexta etapa, palco do único dia de descanso (8 de janeiro) e ponto de partida para a sétima etapa, promete ser crítica na decisão pelos títulos em disputa.

La Paz é conhecida pelo estádio Hernando Siles, localizado a 3637 metros acima do nível do mar e um dos estádios de futebol com maior altitude. Qualquer equipa - que não boliviana - sente imensas dificuldades neste recinto e a capacidade de resistência de um atleta pode ser reduzida a metade, devido à dificuldade em respirar.

"A ligação de Oruro a Laz Paz, na sexta etapa, é algo que nunca tinha sido considerado para o Dakar, mas será uma das etapas mais apaixonantes já vistas", considera Coma. No entanto, não há circuito que valha a atenção sem a presença carismática de alguns pilotos que prometem centrar atenções.

O rei e o aspirante

A participação lusa no Dakar surge em força nas motos, com 11 pilotos inscritos, e natural destaque para Paulo Gonçalves e Hélder Rodrigues, candidatos a lutar pela vitória na difícil competição. Sem qualquer nome português nos carros, há espaço apenas para uma dupla portuguesa de navegadores nos automóveis e outra nos camiões.

No panorama internacional, Stéphane Peterhansel volta, aos 51 anos, a ser um nome incontornável no Rali Dakar, ou não fosse ele o recordista de títulos - 12 no total, seis nas motos (todos na década de 1990) e a outra metade nos carros.

Ao volante da Peugeot, o piloto francês arrecadou o título em 2016 e lidera a lista de candidatos ao trono de 2017. "A experiência acumulada é sempre importante, mas falamos sempre de um novo percurso, que nos vai pôr à prova. Este ano será muito competitivo, com novos trajetos, um novo país e etapas inéditas. Será um desafio alucinante e pelo qual mal podemos esperar", sublinhou o francês, que chegou a ponderar retirar-se em 2015, mas decidiu continuar a correr para chegar à dúzia de títulos. Agora, resta saber se o "senhor Dakar" conseguirá ter mais títulos em carros do que em motos.

Nasser al-Attiyah, vice-campeão de 2016, promete oferecer uma concorrência de peso ao serviço da Mini, numa lista na qual também se destacam Carlos Sainz e Cyril Despres, mas há outro nome incontornável nas atenções dos seguidores do Dakar: Sébastien Loeb, detentor de nove títulos mundiais de ralis e que se estreou no Dakar em 2016, com um promissor 9.º lugar e com quatro vitórias em especiais durante o circuito.

"Cheguei a uma altura, na minha carreira, em que já não procurava a velocidade pura ou as curvas apertadas. Quis algo diferente, juntar a aventura à corrida. Aí apareceu o Dakar, que dá sensações completamente diferentes das do WRC. Os riscos para este ano são muito mais elevados, com o dobro de etapas em altitude alta, e tivemos de ter uma preparação muito mais complexa", contou o francês, que tem como objetivo "conseguir bons resultados nas especiais".

O novo príncipe das motos

Ainda só conta com duas participações no Dakar, mas já promete ser um nome dominador nos próximos anos. Toby Price, 29 anos, estreou-se nas motos em 2015 e subiu de imediato ao pódio, terminando em 3.º lugar da geral. No ano passado, mostrou-se um digno herdeiro do legado de Marc Coma e Cyril Despres, ao sagrar-se campeão, ao vencer cinco etapas.

Australiano e primeiro piloto não europeu a conseguir vencer o Dakar, o corredor apoiado pela Red Bull é o mais forte candidato à vitória e o nome que mais promete tirar o sono aos portugueses que vão correr nas motos, embora o eslovaco Stefan Svitko, 2.º classificado em 2016, também venha a realizar um percurso ascendente.

Mas, curiosamente, Price não se preocupa apenas em somar títulos no Dakar: quer fazê-lo na Austrália. "Já falei com os organizadores. Há território fantástico para acolher o Dakar na Austrália. Seria um sonho para mim, e sinceramente acredito que se eu ganhar mais dois ou três títulos poderei dar à Austrália a projeção de que necessita para ser anfitriã", desejou.

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