Do ayatollah ao presidente: as figuras chave do xadrez político do Irão

Milhões de iranianos foram ontem às urnas escolher os 290 deputados do Parlamento e os 88 membros da Assembleia de Peritos, nas primeiras eleições após o acordo do nuclear. Devido à grande afluência, o fim da votação foi adiado várias vezes
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Ayatollah Khamenei

O Líder Supremo que foi o primeiro presidente clérigo

Ali Khamenei, de 76 anos, foi uma figura chave na Revolução Iraniana e um confidente do ayatollah Khomeini, o fundador e primeiro Líder Supremo da República Islâmica. Essa proximidade ajudou a que fosse eleito presidente, em outubro de 1981, com uma vitória esmagadora, tornando-se no primeiro clérigo a ocupar o cargo. Durante a sua presidência ganhou a reputação de se interessar por detalhes orçamentais, administrativos e militares. Com a morte de Khomeini, que o havia recomendado, foi eleito Líder Supremo pela Assembleia dos Peritos, a 4 de junho de 1989. Como Líder Supremo tem mais poder que o presidente, sendo ele quem nomeia os titulares de cargos como o procurador-geral da república, os membros do Conselho do Discernimento, metade dos elementos do Conselho dos Guardiães e até o presidente da televisão estatal. O seu estado de saúde tem vindo a ser questionado, suspeitando-se que tem cancro da próstata. Rumores que já abriram a discussão sobre a sucessão, aumentando a importância dos eleitos ontem para a Assembleia dos Peritos, órgão que escolhe o Líder Supremo.

Hassan Rouhani

Moderado, assinou o acordo nuclear com o Ocidente

Eleito em 2013 como o sétimo presidente do Irão, Hassan Rouhani, um moderado de 67 anos, prometeu preparar uma carta dos direitos civis, restaurar a economia e melhorar as complicadas relações do país com o Ocidente. A nível interno, encoraja a liberdade pessoal e o livre acesso à informação, tendo também investido nos direitos das mulheres, nomeando algumas para cargos governamentais. Mas a sua grande herança será a assinatura do acordo nuclear, em 2015, o consequente levantamento das sanções e a abertura ao Ocidente, caminho que já tinha começado a trilhar como secretário do Supremo Conselho Nacional de Segurança (1989-2005) e que lhe valeu o apelido de "xeque diplomata". Os seus poderes como presidente estão limitados pela autoridade do Líder Supremo - é responsável pela política económica, mas na prática áreas como a segurança interna e externa estão a cargo da figura maior do Estado. Ontem foi a votos para tentar a reeleição para a Assembleia dos Peritos, da qual faz parte desde 1999. Pertence também ao Conselho de Discernimento (desde 1991) e ao Supremo Conselho Nacional de Segurança (desde 1989).

Akbar Hashemi Rafsanjani

O homem que ajudou a acabar com uma guerra

Nas eleições de ontem estava também em jogo o futuro político de outro moderado, o antigo presidente Akbar Hashemi Rafsanjani, de 81 anos, que tentava segurar o seu lugar na Assembleia de Peritos. Rafsanjani começou a perder influência ao ser derrotado por Mahmoud Ahmadinejad nas presidenciais de 2005 e ao apoiar a oposição quatro anos mais tarde. Mas se ontem conseguiu renovar o seu mandato, poderá usar o peso político que ainda tem para influenciar a escolha do próximo Líder Supremo. Em 2017, termina o seu mandato como presidente do Conselho de Discernimento, que ocupa desde 1989, um organismo que medeia as disputas entre o Parlamento e o Conselho dos Guardiães e serve de conselheiro do Líder Supremo. Irá ficar para a história como o homem que convenceu, em 1988, o ayatollah Khomeini a aceitar o acordo de paz depois de oito anos de uma guerra com o Iraque, permitindo assim salvar o Irão do colapso iminente.

Mohammad Yazdii

À espera de saber se fica à frente da Assembleia de Peritos

Conservador da linha dura, Mohammad Yazdii foi eleito presidente da Assembleia de Peritos em março, na sequência da morte do seu antecessor. Depois de conhecidos os resultados das eleições de ontem se saberá se conseguiu segurar a liderança deste organismo clerical, que tem a seu cargo escolher e monitorizar o Líder Supremo, funções com uma crescente importância face aos rumores sobre a saúde do ayatollah Khamenei. Com 84 anos, Yazdii foi porta-voz-adjunto do Parlamento após a revolução e, entre 1989 e 1999, foi o procurador-geral da república. Atualmente faz também parte do Conselho dos Guardiães.

Ahmad Jannati

Tem nas mãos o poder de autorizar ou vetar candidatos

Outro conservador de linha dura, Ahmad Jannati, de 90 anos, preside desde 1988 ao Conselho dos Guardiães, o órgão encarregue de verificar se a legislação aprovada pelo Parlamento respeita a Constituição e a sharia (a lei islâmica), bem como aprovar ou vetar os candidatos às eleições. No ato eleitoral de ontem o Conselho dos Guardiães teve uma particular influência depois de ter impedido a candidatura de milhares nomes, na sua esmagadora maioria moderados. A influência de Jannati no xadrez político iraniano não é de menosprezar pois, a par da liderança do Conselho dos Guardiães, faz parte da Assembleia de Peritos, caso tenha conseguido ser ontem reeleito. É ainda um dos fundadores da Escola Haghani, uma das mais influentes escolas religiosas do Irão.

Ali Larijani

Um filósofo especialista em segurança nacional

Com apenas 58 anos, é desde há muito um estratega e conselheiro de segurança nacional do ayatollah Khamenei, tendo liderado durante algum tempo as negociações sobre o nuclear com o Ocidente, na sua qualidade de secretário do Supremo Conselho Nacional de Segurança, antes de alegadamente ser afastado pelo presidente Mahmoud Ahmadinejad em 2007. Também reconhecido como filósofo, em março de 2008 foi eleito para o Parlamento, mostrando-se disponível para colaborar com Ahmadinejad, mas não se abstendo de o criticar várias vezes desde então. Dois meses depois tornou-se presidente do Parlamento, cargo que mantinha até agora e cuja continuidade dependerá dos resultados das eleições de ontem. Pelo meio, em 2005, tentou sem grande sucesso candidatar-se à presidência, tendo ficado na sexta posição.

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