Divulgação de relatório Nunes pode levar a onda de demissões
O pedido do FBI não demoveu Donald Trump. O relatório da Comissão dos Serviços Secretos foi devolvido pela Casa Branca com ordem de divulgação para hoje. Em causa está um documento que deixa a polícia federal fragilizada. Segundo fontes com acesso ao relatório, este conclui que o alargamento da investigação à alegada interferência russa na campanha das eleições presidenciais a um antigo conselheiro de Trump, Carter Page, partiu de informações de um ex-espião britânico contratado pela campanha de Hillary Clinton e da Comissão Nacional Democrata. Um trunfo para Donald Trump poder usar com o objetivo de desacreditar a investigação do procurador especial Robert Mueller. Mas que pode abrir uma guerra sem quartel entre a Casa Branca e o FBI.
A divulgação do relatório pode levar a uma onda de demissões nos cargos de topo das agências de segurança, incluindo a do diretor do FBI nomeado por Trump, Christopher Wray.
O terreno já estava minado o suficiente, quando se soube que o lusodescendente Devin Nunes, presidente da Comissão dos Serviços Secretos e responsável pelo parecer - e defensor da divulgação pública do mesmo - terá modificado o documento após a aprovação dos congressistas.
"As ações deliberadamente desonestas do congressista Nunes tornam-no inadequado para as funções de presidente [da Comissão dos Serviços Secretos da Câmara dos Representantes]. A integridade da Câmara está em jogo." Foi desta forma que a líder democrata na assembleia, Nancy Pelosi, reagiu aos últimos desenvolvimentos do relatório.
Os democratas acusaram os republicanos de terem introduzido "mudanças substantivas" ao relatório de quatro páginas votado pela comissão antes de o terem enviado para o presidente norte-americano. Em carta escrita na quarta-feira à noite, o congressista democrata Adam Schiff, que integra a comissão, defende que o documento alterado tem de regressar à comissão para ser reapreciado e votado de novo. Os republicanos responderam quase de imediato, apontando o dedo aos democratas por se "queixarem de pequenas modificações".
Também o líder democrata no Senado, Chuck Schumer, escreveu ao presidente da Câmara, Paul Ryan, a pedir o afastamento de Nunes do cargo, e a "levantar sérias dúvidas sobre por que os republicanos da Câmara não tomaram medidas credíveis para abordar de forma definitiva a intromissão da Rússia nas eleições americanas e evitar futuros ataques cibernéticos russos".
O assunto não se tornou em mais uma divisão total entre republicanos e democratas. Ontem, enquanto os juristas e conselheiros de segurança da Casa Branca analisavam o memorando, o senador republicano John Thune apelava para que a Comissão dos Serviços Secretos endossasse o documento ao Senado para este ser analisado e que tomasse em conta as preocupações do FBI. "Eles [senadores] precisam prestar muita atenção ao que os homens que nos protegem têm a dizer sobre isto, como isto se relaciona com a segurança nacional." Thune defendeu ainda a publicação do relatório realizado pelos democratas da Comissão, caso o que foi aprovado pelos republicanos seja divulgado.
Numa rara tomada de posição pública, a agência federal emitiu um comunicado a expressar "sérias preocupações" sobre a publicação de informação. Até porque o documento terá "omissões de factos relevantes". Fontes conhecedoras da investigação adiantaram à Reuters que o relatório de Nunes omite um facto: o de que o pedido de vigilância a Carter Page, ainda antes de Trump chegar à presidência, baseava-se em informação classificada proveniente de outras agências norte-americanas e não apenas na informação do ex-espião que fora contratado pela campanha de Clinton.