Dívida da Ongoing suportada por dividendos da PT
"O serviço da dívida da Ongoing aos bancos, cerca de 631 milhões de euros, é suportado pela dividendos da Portugal Telecom", garantiu ontem Nuno Vasconcellos, presidente do grupo, durante uma reunião com responsáveis de jornais, na qual recordou que esses dividendos da participação "estratégica" na PT (cerca de 6,95% do capital, resultantes de um investimento 700 milhões de euros) serão remunerados a 57 cêntimos durante os próximos três anos.
Vasconcellos estava acompanhado de Rafael Mora, sócio, Paulo Gomes, CFO e Vittorio Calvi, da Ongoing Internacional, e fez questão em diferenciar a posição na PT das que o grupo mantém na Zon e na Impresa, que classificou de meramente "financeiras".
O pretexto principal da reunião foi esclarecer a posição da Ongoing face a notícias veiculadas nos media segundo as quais a PT financiara de forma indirecta a compra dos 35% do capital da TVI com o investimento no Fundo SICAV, gerido pela Ongoing Internacional, e que segundo Vasconcellos não pode ser confundido com a Ongoing Strategy Investments, SGPS, a empresa que detém os interesses na comunicação social, até porque nem ele nem Rafael Mora (simultaneamente administradores da PT e da Ongoing) têm qualquer tipo de funções ou responsabilidades na empresa gestora de activos financeiros.
Os 75 milhões de euros investidos pela PT Previsões nos fundos "foram efectuados no estrito cumprimento dos requisitos legais", lê-se no comunicado da Ongoing Internacional também ontem divulgado, precisamente no mesmo dia em que o Diário Económico, detido pela Ongoing, noticiava que esse investimento havia recolhido o necessário aval do respectivo comité de investimento da PT, sempre pedido nas operações com "empresas relacionadas", sobretudo com empresas accionistas. De qualquer forma, esse comité de investimento tem carácter consultivo e não deliberativo, aconselhando políticas de investimento e não negócios concretos.
"A nossa dívida não está toda no BES, em Portugal também temos parte no BCP, e não precisámos de recorrer à banca para nos abalançarmos ao negócio da TVI. Temos capitais próprios para isso", disse ainda o presidente da Ongoing que, no entanto, admitiu que o recurso à banca é sempre uma possibilidade "que pode acontecer".
Durante a reunião com os jornalistas foi ainda feita a radiografia dos interesses da Ongoing, que se estendem dos media ao imobiliário, passando por importantes participações accionistas e gestão de produtos financeiros. "Mas o principal, aquilo em que nos vamos concentrar - afirmou Vasconcellos -, são as TMT's (media e tecnologias de informação), aproveitando a massificação do 3G e da fibra óptica". É nesse âmbito que surgem as recentes apostas na TVI (compra de 35% da Media Capital por 122 milhões e subsequente OPA) e no lançamento do Brasil Económico, um jornal construído "em dois meses" a partir do português Diário Económico. Noutro vector, a Ongoing aposta no mundo lusófono e está a estudar o lançamento de projectos em Angola, em parceria com capital local.
De resto, foi desmentida a existência de capital angolano ("que seria bem-vindo, como qualquer outro") nas diversas empresas do grupo e rejeitada a qualificação da Ongoing como "testa-de-ferro do Grupo Espírito Santo". Vasconcellos recordou a génese familiar do grupo, no qual tem papel preponderante a sua mãe, Isabel Rocha dos Santos (cujo nome já se prestou a confusão noticiosa com o da filha do actual presidente angolano), e expressou o desejo de no futuro "ter uma das nossas empresas cotadas".
Nuno Vasconcellos, que será nomeado presidente da Media Capital ao abrigo do acordo recente com a Prisa, admitiu que terá uma palavra a dizer no dia-a-dia da TVI ("se sou o presidente...) e explicou a contratação de José Eduardo Moniz: "É um homem que nos trouxe um know-how importante e tem um enorme prestígio no Brasil. Ele vai trabalhar nos investimentos no mundo lusófono e não terá nada a ver com a TVI".
Respondendo a uma pergunta quanto a um eventual interesse futuro nos direitos televisivos do futebol do Benfica, Nuno Vasconcellos reconheceu que o negócio "é sempre apetecível" mas afirmou que "esses direitos estão com o sr. Joaquim Oliveira até 2013, e ele tem mais três anos de opção. Além do mais -- acrescentou - trata-se de um amigo, e nas coisas dos nossos amigos não nos metemos a não ser que nos peçam".
Vasconcellos deu o exemplo da actuação da Ongoing na Impresa (de Balsemão, detentora da SIC e Expresso entre outros títulos) para rematar: "Não somos tubarões. Só investimos onde somos bem-vindos".