Divergir, dividir e conquistar
As eleições legislativas em 5 estados da Índia incluindo Goa aproximam-se rapidamente e as vozes que culpam o passado e prometem um futuro dourado tornam-se mais vocais. Estamos destinados a ver um aumento nestas vozes que prometem tudo para atrair os eleitores que os levarão ao poder. Com novos atores a tentar a sua sorte no espaço político de Goa, é provável que vejamos tempestades que alguns podem gostar de observar, mas o verdadeiro desafio é cada um de nós mantermos o foco sem nos distrairmos do nosso papel de cidadãos esclarecidos. Com a chegada da era Modi no nosso país, estamos claramente a enfrentar a incorporação da política colocando a nossa democracia em crise. Os nossos votos, nossos representantes democráticos, nossas instituições democráticas e constitucionais, etc., tornaram-se agora matéria-prima para a elite económica poder acumular a sua riqueza. O silêncio do nosso parlamento e a aprovação de leis sem debate, a supressão dos direitos das minorias, a baixa consideração pelo direito, o aumento na quota de riqueza da elite económica, o declínio da ética mediática, o uso e abuso do hinduísmo como recurso político para ganhar dividendos, indicam que estamos presenciando um declínio da democracia liberal e estamos a ver o ressurgimento daquilo que pode ser chamado democracia autoritária.
Pode haver outros adjetivos para descrever com precisão o estado presente da democracia no nosso país. O cientista político francês, Christophe Jaffrelot batizou o estado da democracia na Índia como Democracia Étnica no seu recente livro Modi"s India: Hindu Nationalism and the Rise of Ethnic Democracy. Diz ele que essa variante indiana da Democracia Étnica está muito próxima da Democracia Étnica no Israel que considera os judeus como cidadãos de jure e os demais como cidadãos de facto. Os temas são complexos e não podem ser debatidos usando descrições simplificadas. Parece que na Índia de hoje, ser pobre e pertencer a uma minoria pode ser considerado um crime.
Enquanto estamos a ver dolorosamente que o estado vizinho de Goa, Karnataka, encontra-se numa fervura comunal e não podemos dizer que o veneno comunal resultante desta fervura não tocará Goa e os goeses. Na época do Natal, este veneno atingiu os estados de Haryana e de Assam. Além disso, vários dharm sansads (parlamentos religiosos) tornaram-se locais vergonhosos de discurso de ódio de alguns visionários, que se consideram ser ícones de paz e de amor. A nossa experiência indica que a violência e os tumultos foram usados como uma espada dupla pelos Chanakayas (Chanakaya foi o antigo filósofo, jurista e tutor do imperador indiano Chandragupta Maurya - II século AC), do partido BJP e serviu para polarizar a sociedade e pagou-lhe um rico dividendo eleitoral. Isso significa que os dirigentes políticos não só empregam tácticas para dividir e governar, mas também para desviar e governar. Nós os cidadãos, estamos enfraquecidos pela influência da velha política colonial britânica, chamada "dividir e reinar". Os colonizadores britânicos não queriam cidadãos esclarecidos. E como tal, eles desviaram a nossa atenção de questões reais e de liberdades legítimas e fizeram-nos acreditar que somos primariamente hindus e muçulmanos em vez de cidadãos. Em várias partes da Índia independente, esse desvio metamorfoseou-se na política de castas onde não se vota na política, mas vota-se a favor de uma certa casta.
Na Índia de hoje, o enfraquecimento de nossa cidadania continua e mais uma vez desvia a nossa atenção e nos leva a acreditar que somos em primeiro lugar hindus. Pode ser que por causa dessa crença, demos liberdade de ação ao governo para cometer erros e falhar no plano económico.
O nosso executivo, o judiciário e a mídia decepcionou-nos. Esses e outros fatores levaram coletivamente à morte do cidadão em nós e deram origem a chamada democracia majoritária ou étnica. O cidadão em nós está hoje ferido e mantido em cativeiro. O hindu, o muçulmano e a outra minoria dentro de nós, está a oferecer vantagens aos políticos da extrema direita e presenteá-los com dividendos económicos.
Em Goa também, a cidadania não se livrou deste ataque. A recente ameaça do ministro-chefe de Goa de querer reconstruir os templos destruídos pelos portugueses, é uma clara tentativa para desviar, dividir e governar. As acusações de corrupção, o escândalo sexual envolvendo um ministro de Goa e a desaprovação do povo dos 3 grandes megaprojetos que irão destruir o ambiente e a biodiversidade de Goa, claramente podem ter incitado o ministro-chefe a fazer essa declaração odiosa. Ao fazê-la, o ministro-chefe parece ter colocado um machado nos pés dos membros católicos da Assembleia Legislativa, que foram em tempos importados do Partido Congresso para fortalecer o seu governo. Foi para nós uma agradável surpresa e satisfação quando um dos chefes da oposição pôs os pontos nos is nesse discurso insolente do ministro-chefe, e apontou corretamente que os templos destruídos pelos portugueses foram mais tarde reconstruídos durante a época da própria governação portuguesa. A condição política em Goa está muito turbulenta e indica que os nossos políticos supostamente sisudos bem como alguns partidos políticos demonstram que nos desrespeitam como cidadãos e que continuam a utilizar o capital político que o povo de Goa lhes confiou.
Professor de filosofia e vigário