Dissonância entre mercado e realidade
Os mercados normalmente reflectem a mesma realidade e tendem a ter as mesmas expectativas. No entanto, existem alturas em que os investidores não se encontram em consonância e os diferentes mercados apresentam comportamentos que parecem reflectir cenários macroeconómicos distintos. Hoje, estamos nessa situação: o mercado de dívida empresarial apresenta os menores spreads de crédito dos últimos anos e, pela primeira vez desde 1980, as taxas de juro de empréstimos a empresas nos EUA estão mais baixas que a earnings yield do S&P500. As taxas de juro dos mercados emergentes também baixaram drasticamente e, enquanto em 1998 pagavam em média 17% acima das taxas de juro americanas, hoje apenas pagam 4% sobre essas mesmas taxas.
Em parte, a queda dos juros reflectem melhorias nos fundamentais. Os resultados das empresas e cash flows estão em máximos históricos e a solidez dos balanços está aos níveis mais altos dos últimos anos, e tudo isto se reflecte nos spreads de risco das empresas. Os mercados obrigacionistas apresentaram fortes valorizações nos últimos anos, enquanto os mercados accionistas têm estado mais tímidos.
E esta disparidade de comportamentos está a criar uma situação em que ou as obrigações estão a ficar caras face aos fundamentais, ou as acções estão muito desvalorizadas atendendo ao cenário macroeconómico. Os investidores de corporate bonds estão muito confiantes na economia e esperam que os juros se mantenham em níveis baixos. Por seu lado, os investidores de acções continuam relativamente apreensivos e com os níveis de cash dos seus portfólios no máximos dos últimos tempos. Existe pois uma dissonância de expectativas nos dois mercados, e esta situação pode ser comparada a um período em muito semelhante na história. Na década de 60, as corporate bonds estavam fortes e a inflação muito baixa, um período que foi seguido de performances extremamente interessantes por parte dos mercados accionistas. A grande questão que fica no ar é em saber quais dos investidores têm razão desta vez.